Intuição: distinguindo obstáculos reais de inimigos imaginários - Cap.6

Intuição: distinguindo obstáculos reais de inimigos imaginários - Cap.6

DISTINGUINDO OBSTÁCULOS REAIS DE INIMIGOS IMAGINÁRIOS é o tema do Capítulo 6 do livro ‘INTUIÇÃO– VIDA MELHOR. Fica aqui o convite para sua leitura e reflexão sobre o tema!

No índice abaixo, para ir direto ao subcapítulo, basta clicar no título do mesmo.

Livro Intuição para viver uma vida melhor

intuição, obstáculos

Quando observamos os obstáculos que muitas pessoas apontam por não serem intuitivas; quanto às dificuldades encontradas, o primeiro ponto a observar é que não existem pessoas não intuitivas. Todos somos intuitivos, em diferentes graus de manifestação e de aceitação da intuição.

Muitos dos obstáculos surgem devido às escolhas pessoais ou ao estilo de vida adotado no dia a dia. Atitudes decorrentes da valorização do “ter” e do “fazer” bloqueiam a sensibilidade das pessoas. Algumas dessas atitudes são descritas a seguir:

Pensar consumista

Pensar de forma demasiadamente consumista, sempre focando em “ter” isso ou aquilo, nos afasta da nossa essência. 

Pensar demais

Pensar demais é mais um hábito neste mundo em que vivemos. Pensar demais enfraquece a capacidade básica do ser humano, que é a de pensar corretamente. A capacidade de refletir acaba por enfraquecer-se e resume-se no ato de apenas permitir a reflexão superficial da luz do saber, com “especialistas” iludindo-nos e influenciando outros com “brilhos transitórios e superficiais”, que emitem cá e acolá no jogo de reflexos superficiais do pensar que aprendem a manipular. 

O pensar demais sugere excesso de pensamentos e excesso de temas pensados na sequência, mas o mais grave é o fato de não haver boas referências internas, como virtudes, qualidades e propósitos e objetivos de longo prazo estabelecidos. Quando isso ocorre é muito comum não haver foco, ou quando existe, ele é de curtíssimo prazo e desvinculado de valores e virtudes espirituais que sirvam como referência; assim o comum é não haver experiências internas ou aprendizado de longo prazo. De fato, com o excesso de pensamentos e, ainda desfocados, o que ocorre é o efeito da poluição da mente, com muito desgaste mental e emocional, com falta de perspectivas e, muitas vezes, de esperança, que resulta em pouca clareza mental e ínfimo benefício. O hábito de pensar demais impede a pessoa de se aproximar da essência contida no conhecimento que, se experimentada, promoveria o bem em sua vida.

O que pode segurar o fluxo desenfreado é a prática de interiorizar-se, que pode ser feita de diversas formas (ver Capítulo 8 – Ideias práticas para uma vida mais Intuitiva). Por agora, mencionarei uma delas, que é a prática de refletir. 

A reflexão é uma arte que promove o exercício do equilíbrio entre os pensamentos reflexivos e os pensamentos intuitivos. No fundo, o verdadeiro propósito de qualquer reflexão é o de promover a transformação da vida humana para melhor, e não por mero exercício intelectual que reluz apenas temporariamente em reflexos superficiais, sem vinculação com o saber; reflexos que vêm e vão, pouco agregando a quem os experimenta. 

A absorção do saber pelo espírito promove a transformação do que está sendo apreendido por meio da reflexão em benefícios naturais à vida humana e sempre conduzirá o ser para o bem, para o belo e para o justo.

Atividades repetitivas no dia a dia  

Ter atividades repetitivas e objetivas dia após dia, ou fazer tudo sempre metodicamente do mesmo jeito etc. são exemplos de conduta que desestimulam e bloqueiam a sensibilidade pessoal e, consequentemente, a intuição.

Aprendizagem focada no “fazer” 

A aprendizagem molda a maneira como as pessoas pensam e agem. A aprendizagem focada no “fazer”, em geral, supervaloriza o aspecto pragmático da vida. E isso afeta a maneira como as pessoas se portam, pensam e agem. 

Aprender a “fazer” é parte importante da educação. O problema surge quando se supervaloriza o “fazer” a ponto de torná-lo foco exclusivo de escolhas educacionais. 

O ponto a considerar é que ao supervalorizar o “fazer”, pode ocorrer o afastamento, tanto de quem aprende como de quem ensina, do hábito de refletir e “sentir” o conhecimento. Isso fragiliza em muito a capacidade de intuir.

Foco em resultados e não no saber 

Procurar basear tudo em dados mensuráveis e em provas científicas é uma característica da sociedade contemporânea, voltada a aspectos objetivos e a resultados. Tal característica predispõe na aprendizagem um modelo temerário: a fragmentação do ensino, focando em resultados específicos por áreas. Isso leva ao enfraquecimento de todos os aspectos que são subjetivos. 

Esquece-se que a vida é subjetiva e que “ser humano” conjuga leis universais que ecoam nos universos que nos acolhem: o universo objetivo e o subjetivo; o universo visível e o invisível; o universo do mundo físico e o do mundo espiritual. 

A tendência à valorização dos resultados acaba por “fragmentar” e “desintegrar” o saber. Essa distorção, causada pelo uso de “lentes” que amplificam o valor dos resultados, inibe a consideração de tudo que não é percebido como resultado. 

A princípio, isso parece ser apenas um detalhe, mas é um detalhe que deve receber atenção, pois não é apenas uma onda que vem e logo se desfaz; é um verdadeiro tsunami que acaba por engolfar as pessoas em buscas dissociadas de seu propósito de vida, induzindo-as a se tornarem insensíveis e distantes de sua própria essência divina e espiritual.

Por mais enredada que esteja a pessoa no plano material, em algum momento sua essência espiritual clamará por espaço em sua vida. Quando isso ocorre, de algum modo, percebe-se que há mais na vida que a ilusão de obter resultados.

Vale lembrar que o grande desafio de ser humano é traduzir o saber espiritual em atitudes que harmonizem o mundo físico. Como nos ensinam os filósofos, e vários espiritualistas em suas passagens pelo planeta, o foco do saber espiritual é o bem. 

Robotização 

Rotinas de trabalho e atos repetitivos acabam por induzir as pessoas a agirem como se fossem máquinas, priorizando os atos e os resultados, dando pouquíssima atenção à atitude mental com que executam a ação. Fazer atividades repetitivas dia após dia não é o problema em si, o problema está no “como” as pessoas conduzem suas mentes enquanto realizam as atividades, relegando a sensibilidade e as percepções.

Em simples palavras, a robotização do ser tem como linha mestra o foco no “que” se tem a fazer, induzindo o agente da ação a se preocupar sempre em atingir o resultado, deixando-se de lado o “como” está sua mente ao realizar aquela ação. Ou seja, a atitude mental é relegada a um plano secundário e aspectos humanos são praticamente ignorados. Obviamente, isso inibe a prática intuitiva.

Crises emocionais 

Outro tipo de obstáculo, em relação à intuição, surge quando há situações de extrema comoção ou dor, crises emocionais ou estresse, tensão ou exaustão etc. Essas situações acabam por consumir a energia mental e, quando ocorrem, cortam qualquer fluxo intuitivo. Influências externas, como a própria mídia, influem bastante neste campo, promovendo muito as notícias que causam comoção popular. São poucas as notícias que ajudam a elevar o nível de consciência de quem as recebe. Mas sempre há opções a escolher. O que ocorre é que, em momentos de comoção popular, grande parte das pessoas não buscam o equilíbrio íntimo. Não é que as pessoas devam ignorar o fato que causa comoção; o que tem que estar presente é a consciência de que a mente necessita de equilíbrio, e cada um é o próprio agente responsável por construir esse equilíbrio, usando instrumentos que variam para cada um, como a meditação, a oração, os exercícios de respiração, o contato com natureza, as leituras que inspiram etc. 

Medo de errar 

Uma atitude comum nos dias de hoje, que também atua como uma bloqueadora da intuição na vida das pessoas é o medo de errar. As pessoas são condicionadas a não errar. Ou seja, uma possibilidade natural e humana passa a ser considerada uma fraqueza e a própria pessoa passa a não aceitar os seus erros. Não aceitar o erro é um fator bloqueador da intuição, já que nem a razão garante resultados. Então como aceitar a intuição se há a possibilidade de estar enganado? Esta é uma armadilha criada pelo uso errado da razão. 

Uma sugestão básica, para quem não quer cair nessa armadilha, é usar a razão corretamente, e isso implica em alimentá-la com informações verdadeiras; nesse caso, aceite que nenhum ser humano é perfeito e errar faz parte da jornada. Para desenvolver a sua capacidade intuitiva é preciso não ter medo de errar. Ao usar a intuição, apenas siga em frente e não se preocupe.

Autorrestrições 

É importante ter a consciência de que, conforme a mente é treinada, ela amplia ou reduz nossos limites de atuação. Quando somos treinados a dar resultados, temos a nossa amplitude de vida limitada a um campo restrito de considerações. Isso se reflete também em nossos hábitos, hobbies, lazer etc.

Cada um de nós é responsável por conduzir nossa vida. Quando fazemos com foco em resultados, status, posses de bens materiais etc., estabelecemos restrições que nos afastam de práticas mais lúdicas e subjetivas, como apreciar a leitura de uma poesia, obras de arte, cinema e música que estão fora do eixo comercial etc. Num espectro mais amplo, também pode ser inserido o lazer, os passatempos, o ócio, o apreciar a natureza, o pôr do sol etc. 

Atividades sem “objetivos outros” que não o de apreciar ou viver os momentos, sem se preocupar com o tempo ou com o “que” poderia estar fazendo ou aprendendo naqueles momentos de vida, “aparentemente” sem “produtividade”, são tão importantes quantos àqueles que têm propósitos claros. 

Com muitas autorrestrições, o subjetivo começa a rarear em nossa vida. De uma hora para outra, esquecemos de que aquelas atividades também são importantes e, com o tempo, nem mesmo nos lembramos de que elas existem como opção. Isso acaba por inibir as manifestações intuitivas.

Bloqueios 

Uma mente puramente racional é treinada para bloquear o que não é racional, e é aí que fica de fora tudo o que é subjetivo, inclusive a intuição. Mas não é apenas a intuição que fica de fora; aspectos importantes como a sensibilidade, a apreciação e as capacidades subjetivas como perceber a beleza de um quadro, sutilezas de um poema, escutar os sons da natureza ou observar nuances de cores e vários outros aspectos, que acrescentariam muito em nossas vidas, também ficam além no nosso dia a dia. Aspectos sutis, como sentir, apreciar e contemplar passam a ser ignorados por esses bloqueios.

Isso afeta não só a capacidade intuitiva, mas também as nossas relações com a vida. 

Desequilíbrios 

Buda nos mostrou a importância do caminho do meio por meio da famosa parábola que falava sobre a corda do instrumento, que não poder estar tensionada demais, a ponto de romper, ou solta demais, a ponto de ser impossível produzir som. 

Desequilíbrios acontecem quando não se tem foco algum ou quando existem focos em excesso, o que leva à dispersão, ou quando existe um foco, e tudo o mais é ignorado, com atenção demasiada em algum aspecto – indo além do que seria natural –, esquecendo-se de outros aspectos importantes da vida. Ou seja, há inúmeros caminhos fáceis para a ocorrência do desequilíbrio.

Para que haja equilíbrio é necessário atenção e um certo esforço, sempre. Por isso, cabe a cada um avaliar o seu modo de vida com consciência, e saber que as escolhas são suas e de mais ninguém. São as suas escolhas que tornam possível uma vida melhor, independente do cenário externo. 

Desequilibrar é sempre mais fácil que promover o equilíbrio; neste contexto, cabe um lembrete importante: em momento algum devemos pensar que para sermos intuitivos devemos abandonar o lado racional. Como Buda no ensinou, como tudo na vida, o caminho deve ser o do equilíbrio; isso cabe também no uso da intuição e da razão. O ideal a ser buscado é tornar natural o uso da intuição, assim como o da razão.

Gangorras emocionais 

Outro aspecto que bloqueia o uso natural de qualquer atributo intuitivo que o ser humano possua é o uso permissivo de pensamentos, a maioria deles sem conexão uns com os outros. A proliferação de pensamentos desconectados, dispersos e sem vínculo com um propósito mais elevado, nos enfraquece e nos afasta de nossa natureza original de paz e nos conduzem a experiências de altos e baixos constantes. Isso provoca verdadeiras gangorras emocionais, o que constitui uma das formas mais desgastantes de perder energia. 

Altos e baixos frequentes impedem que experimentemos a harmonia e, mais que isso, provoca a exaustão, além de se tornar um hábito nocivo. Experimentar gangorras emocionais faz mal para a saúde mental e gera falta de esperança e de confiança.

Livro Intuição para viver uma vida melhor

Os dons podem ser talentos ou propensões, aptidões ou habilidades que possuímos naturalmente; são inclinações pessoais atraídas espontaneamente quando deixamos a intuição manifestar-se.

A técnica envolve o conhecimento e a sua aplicação na prática. Podemos entender a técnica como a forma ou o meio, os procedimentos ou os métodos com que procedemos na ação, tendo como meta a aplicação de algum conhecimento específico ou alcançar algum objetivo na prática. Quanto mais desenvolvemos habilidades técnicas, mais próximos estamos de nos tornarmos hábeis naquele tema e, ao fazer uso daquelas habilidades, conseguiremos nos aproximar de torná-las dons. Isso ocorrerá quando houver amor natural naquilo que se faz, gratidão no coração pelas realizações pessoais e ausência de arrogância; então a intuição, naturalmente, será uma aliada que se apresentará espontaneamente.

A intuição aliada ao dom e à técnica ajuda a qualificar uma pessoa de maneira diferenciada; é o que acontece quando deixamos a intuição se manifestar sem medo. Não se trata de abandonar o uso da razão, é apenas tornar a intuição uma aliada da razão no dia a dia.

Ao ouvir Milton Nascimento, estamos ouvindo alguém altamente intuitivo, que faz uma conjunção mágica de dons, combinando talento e técnica indiscutível, e que deixa a intuição brotar sem medo em suas criações artísticas. O mesmo acontece com Zizi Possi, que une seu dom natural com um alto conhecimento técnico desenvolvido em seus estudos e práticas com a musicalidade. Esses são apenas dois exemplos dentre vários artistas, ótimos tecnicamente e que, claramente, aliam as suas capacidades intuitivas ao conhecimento técnico, expressando seus dons por meio de suas criações artísticas.

Há vários outros exemplos de pessoas que aliaram suas capacidades racionais às intuitivas. Vejamos o exemplo de Einstein, ao afirmar que não tinha lembrança de ter feito experiências empíricas-analíticas para descobrir a Lei da Relatividade, mas que isso chegou por intuição. Ele apenas não bloqueava a intuição, deixava que se manifestasse. Junto de seu vasto conhecimento científico, conseguia ir além dos limites que a ciência conhecia na época; o resultado foi a elaboração de uma teoria que mudou o mundo científico – a Teoria da Relatividade.[1] Um outro exemplo é o de Kekulé,[2] que foi um dos pioneiros da química orgânica; em um sonho, visualizou como a molécula do benzeno se apresentava. 

Transformar capacidades em dons é algo que todos podemos alcançar e expressar, mas nem todos conseguem; a maioria por limitações autoalimentadas. É uma questão simples: quando as percepções claramente intuitivas acontecem, o que fazemos com elas? Ao mesmo tempo, nos exemplos mencionados anteriormente, o que uma pessoa comum, sem o conhecimento sobre o tema, faria se tivesse tido as visões que Einsten teve, ou as de Kekulé, ou as inspirações de Milton? Poderiam ter tido as mesmas intuições que aqueles gênios tiveram, mas sem os dons que tinham, e nisso incluem-se as habilidades e conhecimentos por eles adquiridos, mas nada poderiam fazer. 

Então, sim, a intuição manifesta-se nos mais diversos patamares de nossas vidas, inclusive nos mais elevados níveis técnicos ou científicos. O fato a considerar é: independentemente do nível que cada um esteja, se não a acatamos e a levamos em consideração, estaremos levantando barreiras que irão impedir a intuição de se manifestar. 

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altos e baixos intuição

Todas as escolhas que fazemos se fundamentam em nosso estado de consciência, e de acordo com esta, na sintonia que estabelecemos. 

O diferencial para dar qualidade ao que escolhemos reside em estarmos atentos ao nosso estado consciencial. Raramente conseguimos manter um nível de consciência elevada permanentemente; isso pode acontecer num mesmo dia, ou mesmo num período do dia, quando ocorrem variações. O segredo está em não tomar decisões precipitadas ou fazer escolhas quando os níveis de consciência estão em “baixa”. Tais níveis são caracterizados por desânimo ou falta de esperança, irritação ou agressividade, ansiedade ou falta de autoconfiança e estados similares em que nos sentimos em desarmonia. Tais condições, geralmente, conduzem-nos a escolhas equivocadas e decisões precipitadas. 

Em relação à pergunta, a atenção inicial deve estar em não fazer escolhas quando em estados de confusão mental ou desânimo. Estes estados são os piores conselheiros possíveis. Quaisquer escolhas ou decisões nascidas dessas condições terão grande chance de serem equivocadas. 

Quanto às escolhas, que invariavelmente necessitam ser feitas, devemos estar atentos a só fazê-las quando houver harmonia interna, que é quando experimentamos um estado de consciência mais elevada. Estado este que, conforme se manifesta, traz nosso potencial à tona, ativando atributos que temos, advindos de nosso amadurecimento espiritual e de autoconhecimento, mas que só se revelam gradativamente, conforme o estado de consciência que manifestamos. 

Cada um tem os seus próprios níveis de amadurecimento espiritual e de autoconhecimento, mas só os experimentamos em plenitude quando há terreno propício para isso; aí entra a importância da harmonia interior e do estado de consciência. São esses que pavimentam o caminho do bem e do equilíbrio, tornando-os referenciais naturais em nossa jornada. 

O progresso individual é possível, mesmo em meio a cenários que aparentem desfavoráveis. Para isso, cada um tem que ter atenção em não experimentar as “gangorras emocionais” que os altos e baixos nos proporcionam. É aí que entra a importância do autoconhecimento, quando o conhecimento, tanto das suas virtudes e de suas capacidades quanto de suas fragilidades e limites se faz importante. 

Inicialmente não devemos nos expor desnecessariamente a circunstâncias ou cenários em que não estejamos prontos para encarar, mas se é inevitável enfrentá-los, podemos e devemos promover o nosso fortalecimento íntimo para encarar tais circunstâncias ou cenários da maneira mais apropriada possível. Essa preparação envolve o fortalecimento da consciência e, consequente, a estabilização em termos de atitude mental. Seja qual for o método escolhido para viabilizar a estabilidade (ver Capítulo 8), podemos afirmar que dentre os ingredientes terão que estar o amor, a paz interior e uma dosagem adequada de conhecimento. 

O fato é que o progresso, quando construído a partir de uma consciência mais expandida e elevada, espontaneamente terá o seu foco no bem e fará uso natural das capacidades humanas e espirituais. Isso pode mudar o rumo não só das pessoas e organizações, mas de todo o planeta, transformando nossa maneira de encarar e conduzir a vida e a saúde, a energia e os negócios, as relações e a natureza, as artes e a sabedoria.

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intuição

As intuições se expressam fora do domínio do pensar racional e se manifestam espontaneamente, sem aviso nem porque, nem de onde veio. Por esse motivo, muitas pessoas têm dificuldade em aceitá-las.

O fato de a intuição usar de uma “linguagem” que não seja racional e lógica, e se expressar fora do âmbito da razão, cria um certo “desconforto” naqueles habituados às zonas de conforto da racionalidade. No contexto atual, as pessoas estão acostumadas a aceitar como verossímil apenas o que pode ser provado e explicado a partir de explicações racionais. A intuição, na maioria das vezes, foge do domínio das explicações racionais e isso afasta muitos que refutam aquilo que não entendem. Isso deve mudar no momento devido, quando houver um maior equilíbrio no uso das múltiplas inteligências e outras fontes de conhecimento forem aceitas e novas formas de entender passarem a ser naturais. 

Apesar de não ser entendida por muitos, a intuição pode ser percebida e sentida por todos. Perceber e sentir não implica em aceitar. Para aqueles que a percebem, sentem e aceitam, o caminho é um; para aqueles que se apegam somente ao que é racionalizável, é quase impossível aceitar a ocorrência de “intuições” nem um pouco racionais. 

Fazendo uma analogia, seria como tentar colocar um objeto tridimensional num quadro plano e bidimensional – a pessoa até pode perceber a existência de uma interface diferente que ali se manifesta –, mas está tão habituada a ver no plano que não consegue entender algo que salta para fora.

No contexto de incertezas e de mudanças que vivemos atualmente, novas ondas se apresentam. Pode-se dizer que “alguns receptores estão desligados, outros recebem um sinal distorcido; há aqueles que ignoram sinais que não conseguem reconhecer e identificar e os classifica como ruídos, e há aqueles que percebem algo novo no ar e trabalham no sentido de captar melhor as mensagens que intuem existir. São os que, de algum modo, estão com o canal da sensibilidade intuitiva mais aberto que outros, em detrimento de outros que mantêm esse canal obstruído, seja pela forma de pensar e agir, seja pela insegurança em aceitar algo sem ter uma explicação racional.

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intuição

Como já foi dito, podemos não ter a consciência disso, mas no dia a dia sempre fazemos nossas escolhas e estabelecemos nossos propósitos e nossas conexões de acordo com nosso estado mental. 

Assim como alguém que esteja experimentando um estado mental de agressividade, medo, arrogância, ciúme ou luxúria, ao fazer uso da razão pode fazê-lo de maneira enganosa, o que conduziria a raciocínios falsos ou tirânicos, pretensiosos ou enganosos e o problema não estaria na razão em si, mas no nível de referências ou propósitos com que a razão foi alimentada e usada; com a intuição se dá algo parecido. 

Num estado mental de calma interior, de harmonia, de paz íntima, nossas percepções serão de um tipo; já em um estado mental de medo ou confusão, ansiedade ou agressividade etc., pode-se prever que as percepções assim nascidas serão de outra natureza, geralmente pouco confiáveis e, consequentemente, pouco aproveitáveis.

É importante entender esse aspecto: nosso estado mental tem grande influência em ambas: tanto na forma como usamos a razão quanto na forma como a intuição pode ser usada. Isto posto, surge a pergunta: como saber, de fato, se algo realmente nasceu da intuição e se é aproveitável e confiável? Para responder essa questão, há um método simples, que nos indica se aquilo que foi captado, percebido, sentido, visualizado, experimentado etc., é verdadeiramente confiável. Consiste em responder a si próprio algumas simples perguntas: 

Nasceu de maneira espontânea? 

Quando surgiu, eu estava em paz? 

Havia estado de calma em minha mente? 

Caso o sentimento, ideia etc. tenha surgido em estado de paz e calma interior, há grandes chances de ser algo genuíno, confiável e aproveitável. Se nasceu em meio a sentimentos de desânimo ou temores, ansiedade ou ambição, apego ou orgulho, por exemplo, dificilmente será uma intuição genuína atuando. 

Caso a consciência não esteja em um nível minimamente elevado, pode-se usar a razão de forma a elaborar raciocínios enganosos, equivocados e, até mesmo, mal-intencionados; com a intuição pode ocorrer algo parecido. Portanto, estados de paz e de harmonia atuam, não só para o nosso bem-estar, mas também como certificação de conexão com fontes saudáveis e confiáveis. 

Quando em níveis de consciência baixos e instáveis, podemos nos sintonizar com energias pouco saudáveis ou não genuínas. É isso o que ocorre quando há a sensação de medo ou desânimo, mau-humor ou ciúme, ambição desenfreada ou ansiedade etc. Em casos assim, tanto raciocínios como intuições podem resultar em “enganos” ou “erros”. 

Não podemos confundir esse tipo de situação com o fato de a intuição ou a razão nos indicarem algo que não nos agrada à primeira vista. Isso não quer dizer que não devemos escutá-las. A intuição raramente será uma falsa produção da mente. Se a considerarmos erroneamente, não poderemos culpá-la. Da mesma forma, se arquitetarmos um raciocínio que corrompe valores genuínos e fizermos algo errado, baseado nesse raciocínio, o problema não pode ser colocado na razão em si. Com muita probabilidade, ele estará no nível de consciência e de propósitos que estamos nos permitindo ter.

É importante sempre estarmos cientes de que a maneira como aprendemos e entendemos, interpretamos e raciocinamos ou pensamos e intuímos depende muito da nossa atitude mental. Quando experimentamos um estado mental de tranquilidade, calma ou paz, claro que fica mais fácil raciocinar e entender, interpretar e intuir assim como também fica mais fácil nos relacionarmos e nos sintonizarmos com as pessoas, a natureza e com o que realmente queremos. Ao experimentarmos um nível saudável de sentimentos e pensamentos, torna-se automático o bom uso da intuição e da razão e, naturalmente, o cenário fica mais propício para estabelecermos conexões e propósitos saudáveis em nossas vidas. Tornando-se simples e corriqueiro perceber com quem ou com quais iniciativas devemos ou não nos conectar. Seja usando a razão ou a intuição.

Aqui vale um alerta: o desânimo, a irritação e o mau-humor são péssimos conselheiros, seja usando a intuição ou a razão.

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intuição enganosa?

Mesmo sem cometer nenhum dos enganos expostos no item anterior, ainda assim, sob certas condições, a intuição pode ser enganosa. Tudo em excesso pode ser prejudicial, e um equívoco muito comum é o excesso de confiança. De alguma maneira, excesso de confiança pode refletir um certo grau de arrogância; no mínimo, um pouco de falta de humildade, e isso pode se refletir na nossa maneira de raciocinar ou de intuir.

Quando expressamos um excesso de confiança, mesmo sem má intenção ou intenções duvidosas, nossas intuições e nosso raciocínio podem nos fazer cair em certas armadilhas. Quando exacerbamos a confiança na intuição, a própria intuição pode nos fazer resvalar por caminhos enganosos. Um exemplo é o de confiar cegamente em Deus. Confiar e ter fé, em condições normais é ótimo e importante na vida das pessoas. Mas tomemos aquele conto de uma pessoa, cuja casa no campo é tomada por uma enchente, a ponto de a própria pessoa ter que subir no teto da casa para não ser levada pelas águas. O conto nos lembra que a pessoa tinha completa fé em Deus, e pede ajuda a Ele. 

Vocês provavelmente se lembram da história. Primeiramente um barqueiro passa pelo local e oferece ajuda; o morador agradece, mas rejeita a oferta e continua lá; um segundo barqueiro passa, e ele, de novo, agradece a segunda oferta, mas continua lá. Até que a enchente aumenta e o morador morre afogado. Ao chegar ao céu e encontrar Deus, o homem reclama com Ele: “mas Senhor, eu rezei, pedi ajuda ao Senhor, e aqui estou”. Deus responde: “Verdade, você pediu ajuda, e Eu a enviei, não uma, mas duas vezes, por meio de barqueiros. Mas você recusou a ambas”.

Esse é apenas um exemplo que nos mostra que a fé cega do homem o deixa à mercê de um excesso de confiança, “Deus vai me salvar”, a ponto de ele não perceber que a ajuda estava sendo dada, mas não da maneira que esperava.

Muitas vezes, “ajudas” ou “alertas” nos são dados, e sem precisarmos pedir, mas quantas dessas ajudas ou alertas nos poupam de problemas ou dificuldades, acontecem no dia a dia e não percebemos? Pode ser numa frase que alguém nos fala, ou num encontro casual que acontece, mas na correria, deixamos passar como se aquilo não tivesse nenhum significado. 


[1]. Teoria da Relatividade é a denominação dada ao conjunto de duas teorias científicas: a Relatividade Especial e a Relatividade Geral.

[2]. August Kekulé, cientista que criou a Teoria da Tetracovalência do carbono, e que propôs, em 1865, após um sonho, a fórmula hexagonal do benzeno. Mais sobre o sonho de Kekulé pode ser lido no site sobre o autor. Fonte: <http://intuicao.com/o-sonho-de-kekule/>.


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Imagens (exceto a da capa do livro): Banco de dados Pixabay