Um brasileiro inesquecível: Manoel de Barros

Um brasileiro inesquecível: Manoel de Barros

Um poeta brasileiro.
Acima de tudo, um poeta.
Acima de tudo, simples, imprevisível e magnífico.
Para mim, um poeta brasileiro para todos os tempos.
Impossível de classificar.

O que ele fez de diferente?
Bem, tudo que ele escreveu, simplesmente.

O que ele fez de inovador?
Como ele mesmo disse: ‘só usava a palavra para compor seus silêncios.’
Como ele tratava as palavras!
Como ele enxergava a poesia!
Como ele desenhou seu pensar em poesia!

O escritor morreu aos 97 anos, em 13 novembro de 2014.
Sua obra, renasce a cada dia, em cada frase sua que continua a preencher vazios.

É atribuída a Carlos Drummond de Andrade a afirmação de que recusava o título de maior poeta vivo do Brasil, em favor de Manoel de Barros, quando ambos estavam vivos, obviamente. Gesto nobre por parte do nosso poeta de Itabira.

Não indico um livro seu, indico todos.
Para mim, cada poema que escreveu merece um mergulho, de tempos em tempos.

Só para dar um ‘gostinho’ manoelino, seguem dois de seus poemas:

O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

E vejam essa outra …

O menino que carregava água na peneira

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.

Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.

A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!

Veja mais sobre “Manoel de Barros” em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/manoel-de-barros.htm

“PRINCIPAIS OBRAS DE MANOEL DE BARROS”

“Poemas concebidos sem pecado (1937)

Face imóvel (1942)

Poesia (1956)

Compêndio para uso dos pássaros (1960)

Gramática expositiva do chão (1966)

Matéria de poesia (1974)

Arranjos para assobio (1980)

Livro de pré-coisas (1985)

O guardador das águas (1989)

Concerto a céu aberto para solos de aves (1993)

O livro das ignorãças (1993)

Livro sobre nada (1996)

Retrato do artista quando coisa (1998)

Ensaios fotográficos (2000)

Exercícios de ser criança (2000)

O fazedor de amanhecer (2001)

Tratado geral das grandezas do ínfimo (2001)

Águas (2001)

Para encontrar o azul eu uso pássaros (2003)

Cantigas para um passarinho à toa (2003)

Poemas rupestres (2004)

Memórias inventadas I (2005)

Memórias inventadas II (2006)

Memórias inventadas III (2007)

Menino do mato (2010)

Escritos em verbal de ave (2011)

Portas de Pedro Viana (2013)”

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