Neste minilivro Ferhélin mergulha em algumas das maravilhas da vida ao ouvir o Senhor Britânico — um personagem que nos convida a refletir sobre os propósitos que nos movem, os interesses que nos cercam e as dimensões que nos atravessam. Com elegância e sabedoria, ele nos mostra como referências positivas podem alinhar coração e intelecto, despertando em nós o brilho dos sonhos que realmente importam. Confira!
(tempo de leitura: 15 min)
OUVINDO AS ESTRELAS

MiNIlivro 4 – Ouvindo as Estrelas
O Senhor Britânico
(e o Alinhamento do Coração com o Intelecto)
O que torna alguém especial não é ter poder;
é saber usá-lo

A palestra intitulada O intelecto humano e suas referências fluía com naturalidade no centro de convenções de um hotel nos arredores de Banff — uma charmosa cidade aninhada entre as majestosas Montanhas Rochosas Canadenses.
No palco, um senhor britânico de aparência serena e postura nobre cativava a atenção da plateia. Era alto, magro, de pele clara, cabelos grisalhos bem penteados e óculos de aro fino. Devia ter entre 55 e 60 anos. Sua voz, firme e pausada, conduzia reflexões sobre os interesses da sociedade contemporânea:
— Costumamos voltar nossa atenção àquilo que valorizamos. Ao ler uma manchete, ouvir uma notícia ou assistir à televisão, sintonizamos naturalmente com o que nos desperta interesse. Mas… o que realmente nos interessa?
Silêncio.
— Na maioria das vezes — continuou ele — nossa atenção é moldada por influências externas. Alimentamos nossos intelectos, sentimentos e emoções com a energia que nos cerca. E hoje, qual é o tema que mais captura a atenção coletiva?
Mais uma vez, ninguém respondeu.
— O universo financeiro — afirmou com convicção. — O dinheiro dita padrões, direciona decisões e, como dizem, “fala mais alto”. Vivemos em um mundo governado pela energia do capital, onde a linguagem dominante é: vender, para alguns; comprar, para muitos. Estamos constantemente negociando — seja uma má notícia ou a imagem idealizada de uma mulher promovida pela mídia.
Ele fez uma pausa, observando os rostos atentos.
— Mas o que estamos comprando? Pelo quê estamos pagando? Que tipo de “moeda” usamos? E quem lucra com isso?
Ferhélin, sentada entre os ouvintes, absorvia cada palavra. Observando aquele homem de presença imponente e fala refinada, pensou: Ele é o Senhor Britânico.
O palestrante prosseguiu:
— Quando assistimos a programas sensacionalistas ou lemos jornais que exploram fofocas e tragédias como atrativos principais… o que estamos consumindo? Diria que estamos alimentando nossas mentes com produtos de baixa qualidade. E o preço? Pagamos com a pobreza — não apenas material, mas mental, intelectual e emocional.
— Vocês concordam que isso é uma forma de negócio? — indagou. — Algo é oferecido, e você escolhe aceitar ou não. E qual é a moeda de troca? Nossos sonhos. Nossos propósitos. A energia vital que outrora nos movia é negociada por desesperança. Trocamos autoestima e tempo por vazio. Até mesmo a esperança e a criatividade entram nessa barganha.
— E quem ganha com isso? — perguntou, olhando diretamente para a plateia. — Certamente não é o fortalecimento interior do ser humano.
Fez-se um silêncio reflexivo. Então, ele convidou:
— Gostaria de ouvir o que vocês têm a dizer.
Um senhor de cabelos brancos, sentado próximo a Ferhélin, ergueu a mão. Vestia um blazer azul e camisa clara. Parecia canadense.
Recebeu o microfone e perguntou:
— Às vezes me pergunto… o que está acontecendo com o mundo? Por que tanto desequilíbrio?
O Senhor Britânico refletiu por alguns segundos antes de responder:
— Talvez porque o mundo tenha pendido para o materialismo excessivo. O que vocês acham?
Alguns assentiram. Ele continuou:
— Quando o materialismo se torna o foco principal, a visão da vida se fragmenta. Os elos que conectam as dimensões essenciais da existência se rompem. E um setor não funciona sem o outro.
— Que setores seriam esses? — perguntou o senhor do blazer azul.
— Podemos chamá-los de esferas, dimensões ou campos de envolvimento. Segundo a visão oriental, há áreas fundamentais: trabalho, relacionamentos amorosos, criatividade artística, criação dos filhos, amizades, sucesso, espiritualidade, saúde, abundância e prosperidade — em todos os níveis, não apenas o financeiro.
— Existe ainda uma dimensão que interage com todas as outras. E embora distintas, essas esferas não estão separadas. Elas coexistem, se entrelaçam, se complementam. São como universos simultâneos.
— A sociedade tentou separá-las — concluiu — mas essa separação é ilusória. O plano material não pode ser dissociado do espiritual. E ao concentrar energia em apenas um setor, desequilibramos o conjunto da vida.
SONHO VITAL
‘Sonhos e propósitos de vida, capazes de nos despertar.’
— E como sair disso? — perguntou uma jovem ruiva, aparentando pouco mais de vinte anos.
O palestrante sorriu com leveza e respondeu, olhando para a plateia:
— Essa é uma pergunta essencial, não acham?
Fez uma breve pausa, como quem prepara o terreno para algo importante.
— Acredito que exista uma força capaz de redirecionar nossa energia e nos libertar dessa realidade que, em grande parte, nós mesmos construímos. Há maneiras de deixar de usar a moeda errada — nossa energia vital — para comprar algo ainda mais equivocado: a pobreza mental, intelectual e emocional. E, como se não bastasse, recebemos de brinde a desesperança.
Ele se aproximou do centro do palco.
— Chamo essa força de sonho vital. É esse “algo mais” que pode nos guiar em meio ao caos. O intelecto humano, hoje, está debilitado, sem vigor, em desarmonia. E pergunto: como um intelecto enfraquecido pode fazer escolhas que revitalizem a vida?
— Precisamos de um instrumento — como uma bússola — que nos permita transitar pelas diversas dimensões da existência, reacendendo áreas esquecidas há muito tempo.
Fez um gesto circular com a mão, como quem desenha esferas invisíveis no ar.
— O sonho vital não é um único sonho, mas sim uma essência genuína que habita em nós. Ele se conecta aos nossos propósitos mais profundos e tem a capacidade de atravessar o coração, o intelecto e a mente, visitando as várias dimensões que compõem nossa vida.
— Há interfaces entre essas áreas. E o sonho vital transita livremente por todas elas. Ele desperta.
Escolhendo Sonhar

O público permanecia em silêncio, absorvendo cada palavra.
— O intelecto precisa de referências positivas para fazer boas escolhas. Imagine ter que escolher entre três opções ruins. O que fazer? Em nossas vidas, temos restringido demais o campo de possibilidades. Mas não somos obrigados a isso.
— Quando ativamos o sonho vital, renovamos nossas referências. Nossos sonhos e propósitos não podem permanecer sufocados por visões limitadas ou distorcidas. Os sonhos inspiram talentos. Os propósitos nos impulsionam a aprender e a compartilhar.
— E ambos precisam ser nutridos por qualidades e virtudes.
Ele caminhou lentamente pelo palco.
— Quando seguimos caminhos guiados por nossos sonhos e propósitos, começamos a reaprender e a reviver o que pensávamos já saber. É algo único — ver o que estava adormecido em nós ganhar vida. Talentos ocultos desabrocham e fluem com vitalidade.
— Um bom intelecto precisa praticar o discernimento, a criação e a escolha. Essas são suas habilidades fundamentais. E uma mente saudável precisa de boas experiências que a vitalizem, que a acostumem ao fluxo de bons pensamentos, sentimentos e emoções.
— Quando ativamos nosso sonho vital, nos aproximamos do propósito maior de estarmos aqui neste planeta.
A atmosfera na sala era de contemplação. Um sentimento solene parecia envolver a audiência.
Um rapaz negro, de óculos e expressão intelectual, levantou a mão:
— Como identificar esse sonho?
O Senhor Britânico sorriu com empatia.
— O grande desafio é a jornada que essa busca nos proporciona. Identificar o sonho é importante, mas é consequência natural de quem escolhe encontrá-lo. Desde que não compliquemos — respondeu com simplicidade.
Ele parecia envolto por uma aura de luz.
— Nessa busca, o verdadeiro desafio é permanecer na jornada. Acredito que há um plano divino registrado na consciência de cada um de nós. Cada ser tem um plano de vida único. Podem existir semelhanças, mas nunca iguais.
— Ativar o sonho vital — dar espaço aos nossos sonhos e propósitos — exige coragem e amor-próprio. Viver sem medo é o requisito mínimo. O sonho vital nos ajuda a revelar o propósito mais claro e completo de nossa existência, muitas vezes encoberto por metas e ilusões passageiras.
Ele se aproximou da borda do palco, como quem deseja falar diretamente ao coração de cada pessoa ali.
— Quero dizer algumas frases. Tomem-nas como pessoais, cada um de vocês:
Busque seu sonho vital. Caminhe em direção àquilo que sente ser sua verdade. Alimente sua mente e seu intelecto com carinho, com regularidade, com amor e paz de espírito. Use suas qualidades, talentos e criatividade no nível que alcançar. Faça isso com vontade e zelo. Exponha sua existência de forma verdadeira — isso fortalecerá seu espírito com sabedoria e determinação.
— Um segredo dessa prática é não se abater com os erros e enganos que surgirem. Outro segredo é colocar o conhecimento a serviço da vida, no nível que você alcançar.
— Use recursos como percepção, intuição e criatividade. Eles nos permitem agregar e manifestar sabedoria. E o próximo passo, mais profundo, é colocar esse saber em ação. Assim, você manifestará espiritualidade em sua vida.
Após uma pausa, ele concluiu com a frase que parecia resumir tudo:
— O que torna alguém especial não é ter poder. É saber usá-lo. O poder verdadeiro surge quando alinhamos o intelecto ao coração, criando um canal entre ambos. E quando esse alinhamento acontece… mágicas se realizam.
Alinhando o coração com o intelecto

— Como conduzir nosso coração e nosso intelecto a esse alinhamento? — perguntou uma jovem sentada próxima a Ferhélin, com olhar curioso e sincero.
O Senhor Britânico respondeu com serenidade:
— O veículo capaz de transitar entre esses dois campos — tão distintos e, ao mesmo tempo, complementares — é o que venho chamando de sonho vital. Quando damos vida aos nossos sonhos e propósitos, surgem naturalmente os recursos que levam o amor do coração ao intelecto, e a força de vontade do intelecto ao coração.
Fez uma pausa breve, como quem permite que as palavras respirem.
— O intelecto, sem sonho e sem propósito, perde a direção. Sem eles, não há fluxo de paz, nem de felicidade. O amor não encontra morada. As tarefas se tornam árduas, exigem esforço desmedido, e os frutos… medíocres ou apenas razoáveis.
— O coração, por sua vez, sem sonho e sem propósito, também se perde. Fica sem foco, sem confiança no seu guia — o intelecto. A relação entre ambos se torna frágil, marcada por dúvidas e desesperança.
— Mas os sonhos e os propósitos têm a capacidade de transitar entre essas duas dimensões. Eles são pontes vivas entre o sentir e o pensar.
A atenção da plateia estava completamente voltada ao Senhor Britânico, que prosseguiu com firmeza e leveza:
— Quando o sonho habita apenas o coração, há muito amor, garra e determinação. Mas tudo se resume ao “querer”. É como um cavalo selvagem: cheio de energia, mas sem rumo. Falta método, falta pragmatismo. E, sem isso, dificilmente se concretiza.
— Quando o sonho reside apenas no intelecto, há idealismo, há teoria. Mas tudo permanece na intenção. Imaginem um piloto de corrida que domina a técnica, conhece o trajeto, sabe planejar… mas não tem combustível. Sem o essencial, não há movimento.
— O sonho, o propósito, a imaginação e a criatividade são esse combustível. São fundamentais para conduzir nossas vidas com sentido.
Ao final, o Senhor Britânico agradeceu a todos com um gesto gentil e palavras breves. A palestra chegava ao fim, mas Ferhélin sentia que algo mais havia sido transmitido — algo que não estava apenas nas ideias, mas em uma espécie de brilho que fluía junto com elas.
Talvez nunca mais o encontrasse. Ou talvez o reencontrasse, quem sabe?
A Maravilha da Vida
Mais tarde, no silêncio acolhedor do lobby do hostel, Ferhélin saboreava um chá earl grey com leite. “Em homenagem ao Reino Unido”, pensou, sorrindo com a leveza de quem compreende o valor dos gestos simples.
A música ambiente preenchia o espaço com suavidade, enquanto pensamentos dançavam em sua mente:
— “Quantos momentos mágicos vivemos sem perceber? Quanto recebemos de pessoas e situações às quais nunca tivemos oportunidade de agradecer? É extraordinário como isso acontece. Pessoas que talvez nunca mais veremos, que nem notaram nossa presença, mas que mudaram nossas vidas com suas atitudes e mensagens. Muitas vezes, nem estavam conscientes do que estavam ensinando…”
Ela se lembrou dos ensinamentos silenciosos que a vida lhe havia presenteado — lições sem nome, vindas de olhares, sorrisos, gestos. E então, com serenidade, pensou:
— “Essa é a maravilha da vida: momentos invisíveis que nos transformam.”
Recolheu-se ao quarto. Os sentimentos que experimentava em Banff eram intensos e puros — a liberdade, a comunhão com a natureza, o banho de aromas, os sabores. Um tempo em que o coração e o intelecto, por fim, caminhavam juntos. E nesse caminhar, Ferhélin compreendia que viver é permitir-se sentir, mesmo sem entender tudo.


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O SONHO E UM ENCONTRO ILUMINADO

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“Ouvindo as Estrelas”
Edição original – 2004
Edição Atualizada – 2025

Sobre a Série Ouvindo as Estrelas
A série Ouvindo as Estrelas convida o leitor a acompanhar Ferhélin, uma jovem cientista em busca de sentido além das fórmulas e teorias. Em sua jornada pelas terras canadenses — especialmente entre os cenários majestosos das Montanhas Rochosas — ela vive encontros sutis e transformadores que a conduzem a uma nova forma de ver o mundo.
Cada minilivro é uma travessia entre paisagens externas e descobertas internas. A magia da natureza se entrelaça com reflexões profundas, revelações inesperadas e aprendizados que transcendem a lógica, tocando o espírito.
Ao longo da série, Ferhélin aprende a ouvir o que não se diz, a perceber o invisível e a integrar ciência e espiritualidade com leveza e sabedoria. Essas experiências, compartilhadas com o leitor em linguagem acessível e poética, revelam que há estrelas que só se escutam com o coração atento.
Minilivros ‘OUVINDO AS ESTRELAS‘.
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Imagem do post (exceto as dos livros): Banco de dados Pixabay
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