A Menina Mestra compartilha reflexões sobre tempo, escuta, intuição e ritmo pessoal, desafiando os padrões do mundo moderno com uma simplicidade que toca a alma.
Este minilivro é um convite à pausa, à escuta com o coração e à redescoberta do fluxo natural da vida. Uma história breve, mas profunda — sobre encontros que não se explicam, apenas transformam. Confira!
(tempo médio de leitura- 20 min)
OUVINDO AS ESTRELAS

A MENINA MESTRA
SÉRIE: “OUVINDO AS ESTRELAS”
COPYRIGHT © H. S. SILVA
ISBN – Nº 978-65-01-36100-0
Sinopse – A Menina Mestra
Em meio às paisagens arrebatadoras das Montanhas Rochosas, Ferhélin continua sua jornada que começa como turismo e se transforma em travessia interior. Ao visitar o Lago Louise, ela conhece uma jovem singular — a Menina Mestra — cuja sabedoria silenciosa e olhar profundo revelam caminhos invisíveis.
Entre trilhas, cafés, fogueiras e conversas sob o céu estrelado, Ferhélin descobre que a verdadeira mudança não está nas ações, mas na presença. A Menina Mestra compartilha reflexões sobre tempo, escuta, intuição e ritmo pessoal, desafiando os padrões do mundo moderno com uma simplicidade que toca a alma.
Este minilivro é um convite à pausa, à escuta com o coração e à redescoberta do fluxo natural da vida. Uma história breve, mas profunda — sobre encontros que não se explicam, apenas transformam.
Veja abaixo sumário com os capítulos de ‘A MENINA MESTRA‘‘.
(Para ir a um deles, basta clicar no capítulo ou – para leitura co minilivro todo, é só dar sequência nesta página)
capítulos do MiniLivro 7
ENCONTRANDO A MENINA MESTRA
O SUJEITO DA AÇÃO
O Mundo pode Melhorar?
Tempo para si
A CONSTÂNCIA NO Ritmo
O MUNDO PODE MELHORAR?
a persistência e a constância
Momento certo para Novos Valores
Escutando com o Coração
Fluxo Natural
A Fogueira… O Violão … A Intuição

Minilivro 7
A Menina Mestra
“O foco deve estar nas pessoas,
não nas ações.“

O destino ficava a cerca de 70 km de Banff. O alojamento onde Ferhélin se hospedara estava próximo ao Lago Louise — “um dos lagos mais espetaculares que jamais esqueceria”, como ela mesma escreveria mais tarde.
Foi ao ver fotos desse lago ainda no Brasil que decidiu embarcar naquela viagem. Desde então, aguardava com ansiedade o momento de conhecê-lo pessoalmente. E agora, finalmente, estava prestes a chegar.
O lago era ainda mais deslumbrante do que nas imagens que a haviam inspirado. Embora não fosse muito extenso, sua beleza era arrebatadora: o azul profundo das águas, a colina à esquerda coberta por pinheiros, as árvores à direita ladeando um caminho que serpenteava ao longo da margem, e ao fundo, uma geleira que descia suavemente em direção ao lago. O cenário era de tirar o fôlego.
Com uma pequena mochila às costas e um chapéu branco de pano protegendo o rosto, Ferhélin sentia-se tomada por uma emoção silenciosa e intensa. Sabia que aquele seria mais um dia especial — envolta pela grandiosidade das Rochosas e pela serenidade do lago.
Naquela manhã, percorreu toda a extensão da margem, sentou-se sobre pedras lisas, meditou, contemplou o horizonte em todas as direções e se divertiu com os esquilos que brincavam entre as rochas como se estivessem em um jogo de esconde-esconde. Foi uma manhã leve, quase mágica.
Mais tarde, no gramado do jardim próximo ao lago, enquanto fazia um lanche simples, Ferhélin teve um encontro que mudaria o rumo daquela viagem. Uma jovem, sentada sozinha na relva, chamou sua atenção. E como você, leitor, logo perceberá — ela a surpreendeu profundamente.
Ferhélin a chamaria de Menina Mestra.
Era uma mulher jovem, com cerca de vinte anos, vinda de um vilarejo próximo a Zurique, na Suíça — uma comunidade de cerca de seiscentos habitantes. Estava só, tranquila, sentada no gramado verde, não muito distante de onde Ferhélin repousava.
Em um gesto espontâneo, Ferhélin lhe ofereceu uma barra de cereal. A jovem agradeceu com um sorriso gentil, mas recusou. Foi assim que começou aquele encontro.
Ela estudava inglês em Victoria, na ilha de Vancouver, e aproveitava uma folga de duas semanas para explorar as Montanhas Rochosas. Tinha olhos azuis brilhantes, cabelos entre castanho e ruivos soltos ao vento, pele clara, jeans, tênis e um pequeno piercing de cristal no nariz que cintilava discretamente sob o sol.
Ferhélin jamais poderia imaginar o quanto aquela jovem a tocaria.
Após uma breve troca de palavras sobre a simpatia dos canadenses, a beleza da natureza e outras amenidades, decidiram caminhar juntas ao redor do lago.
O Sujeito da Ação
Grupos de turistas caminhavam em todas as direções. De tempos em tempos, alguém se via sozinho, correndo apressado à procura dos colegas. Foi ao observar uma dessas cenas que Ferhélin comentou com a Menina Mestra:
— As pessoas estão cada vez mais ocupadas… Até mesmo num passeio, parecem seguir uma agenda apertada. Como encontrar tempo para se dedicar verdadeiramente a algo?

A jovem parecia tímida à primeira vista, mas Ferhélin, com sua experiência de professora universitária, sabia reconhecer além das aparências. Havia ali, naquela figura serena, uma mulher de muitas camadas — e aquele encontro, pressentia, seria inesquecível.
A Menina Mestra olhou para Ferhélin com atenção e respondeu com calma:
— É verdade… tudo parece corrido hoje em dia. Mas quem fez o mundo assim? Foi o próprio ser humano. E mais: qual é a prioridade hoje?
Fez uma breve pausa, como quem escuta o próprio pensamento, e então concluiu:
— A ação. Tenho percebido que o foco não está mais no sujeito da ação, mas no ato em si.
Ferhélin acompanhava, em silêncio, o desdobrar daquela ideia.
— As pessoas estão sendo educadas para melhorar a execução das ações — continuou a Menina Mestra. — Mas não como pessoas, e sim como operadoras de tarefas.
O valor está na performance da ação, não na pessoa que a executa.
O TEMPO COMO ESPAÇO DE RECONEXÃO
— Vejo que, se tentarmos realizar bem todas as tarefas para só então, no tempo que sobrar, dedicarmos atenção às pessoas — como seres humanos que são —, a chance de mudar essa realidade se torna cada vez menor.
O que acontece é que cada vez mais as pessoas se sujeitam às ações que cercam suas vidas, até mesmo num passeio pelo lago — disse a Menina Mestra, com um sorriso leve.

— E o que você acredita que poderia transformar essa situação? — perguntou Ferhélin, curiosa.
— Tenho pensado muito nisso — respondeu a jovem. — Sinto que a chave está numa palavrinha simples: prioridade. A prioridade precisa mudar. O foco deveria estar nas pessoas, não nas ações. Quem deve receber a atenção principal: o ato ou
coisas simples. A estar comigo mesma, ou com amigas, sem pressa. Você entende?
Ferhélin quem o realiza?
Ferhélin refletiu por um instante, depois questionou:
— Mas como você entende isso? As pessoas têm rotinas exigentes, precisam trabalhar, sustentar suas famílias… Não é fácil simplesmente parar tudo para se dedicarem a si mesmas.
— Eu sei — disse a Menina Mestra com serenidade. — Mas acredito que todos podem, de alguma forma, criar um tempo mínimo para si. Um tempo só seu, todos os dias. Sem televisão, sem celular, sem interrupções. Um espaço de silêncio, de presença.
Ela fez uma pausa, como quem acessa uma memória querida.
— Lá onde moro, tanto em casa quanto na escola, fui ensinada a observar a natureza. A prestar atenção nos pássaros, nos animais… a andar descalça — quando não era inverno, claro — disse, sorrindo com os olhos. — Com isso, aprendi a gostar das assentiu com um olhar tocado.
Aquela jovem falava com uma clareza que parecia vir de um lugar muito antigo — ou muito verdadeiro.
O BANHO DA ALMA
— Aprendi que não é preciso estar sempre ocupada, fazendo algo ou falando com alguém. Nada disso. Acho que aprendi a apreciar a vida — e talvez essa seja a essência do que venho aprendendo desde criança — disse a Menina Mestra, com um brilho sereno no olhar.
Ferhélin sentia a luz daquela jovem irradiar ao seu redor. Havia algo especial em sua presença — um olhar que parecia saber exatamente qual era seu papel no mundo.
A Menina Mestra prosseguiu:
— Gosto de refletir, meditar, orar… Acredito que cada pessoa pode escolher o que fazer num tempo que seja só dela. Esse é um requisito mínimo: um tempo íntimo, diário. Sem isso, como promover mudanças reais na própria vida?
Ela fez uma pausa, depois acrescentou com firmeza:
— Na prática, esse tempo precisa existir todos os dias. Como um banho — só que para a alma. Pelo tempo que for possível, mesmo que sejam apenas alguns minutos. Sem isso, a pessoa acaba sendo engolida por um redemoinho de informações, conversas e tarefas. E isso vira rotina. Dia após dia.
Ferhélin estava verdadeiramente surpresa. Ouvir tudo aquilo, vindo de alguém tão jovem, tocava fundo. Havia ali uma mistura rara de ingenuidade e sabedoria. E essa seria a tônica daquele encontro: a Menina Mestra falava com uma certeza tranquila — e isso encantava Ferhélin desde o primeiro instante.

— A pessoa que reserva esse tempo para si já está fazendo algo especial, não acha? Há quem, ao fim do dia, busque aulas de meditação, relaxamento, shiatsu ou cursos alternativos — comentou Ferhélin.
A jovem a olhou nos olhos e respondeu com doçura:
— Sim, tudo isso pode ajudar. Mas estou falando de um tempo especial mesmo. Um tempo em que a pessoa esteja consigo mesma, e possa dizer: “Eu sou livre. E vou escolher o melhor para mim neste momento.”
Ela precisa estar consciente para escolher o que lhe faz bem — ou o que pode fazer bem aos outros. Escolher não entrar na roda viva da ação. Você entende?
Ferhélin não respondeu. Apenas a olhou com carinho e profundo respeito. Aquela jovem não falava apenas por falar. Havia sentimento em cada palavra.
o mundo pode melhorar?
Enquanto caminhavam entre as árvores, por uma trilha que se afastava do lago, Ferhélin perguntou:
— Você acredita que o mundo pode melhorar? E quanto tempo será necessário para isso acontecer?
A Menina Mestra pensou por um instante antes de responder:
— Não sei ao certo. Mas quanto à possibilidade de o mundo melhorar… sim, eu acredito. Acredito que, se cada pessoa buscar se melhorar um pouco a cada dia, o mundo também se tornará melhor — dia após dia.
Ela fez uma pausa, depois acrescentou:
— Mas isso exige ir além da visão materialista e das concepções egoístas. Precisamos ser mais humanos, mais solidários, mais conscientes das nossas responsabilidades — conosco mesmos e com o mundo em que vivemos.
MARATONA DA ALMA
— E quanto tempo levaria para o mundo mudar? — insistiu Ferhélin.
— Essa resposta eu realmente não tenho — disse a jovem. — Mas acredito que cada um pode perceber o seu próprio tempo de transformação. E mais: acredito que a persistência e a constância têm mais valor do que o talento ou o potencial de alguém para mudar ou se adaptar.
Ferhélin a olhou com surpresa:
— Por que você pensa assim?
A Menina Mestra sorriu e respondeu com firmeza:
— Porque a mudança precisa respeitar a lei da constância e da persistência. Você está percebendo aonde quero chegar?
Ferhélin assentiu com um leve movimento de cabeça, deixando-a prosseguir.
— Eu gosto de corridas — disse a jovem. — Imagine uma maratona. São 42 quilômetros. Não adianta correr os primeiros cem metros em 11 ou 12 segundos. Você pode até fazer um dos melhores tempos para aquela distância, sentir-se veloz, invencível… Mas e o restante do percurso?
Ela olhou para Ferhélin com intensidade.
— Você pode ser extremamente rápida no começo, mas isso não garante que chegará ao fim. Por outro lado, se seguir seu próprio ritmo, talvez não seja tão rápida — mas terá mais chances de completar a jornada.
— Nem mesmo um recordista mundial de maratona aguentaria manter o ritmo de uma corrida de 100 metros por 42 quilômetros. É aí que entram a constância e a persistência. Para ter constância, é preciso ter ritmo. Sem ritmo, você se desgasta e “morre” antes da metade da corrida — talvez até no início.
Ferhélin acompanhava atentamente. A ideia era clara: cada pessoa tem seu próprio ritmo. E, se souber respeitá-lo, chegará lá.
A Menina Mestra continuou:
— Se você se esforça demais tentando acompanhar o ritmo dos outros, logo se cansa. Perde o pique, desanima. E se for lenta demais, tentando seguir o compasso alheio, pode acabar desviando do seu propósito — esquecendo o que realmente importa para você.
A TRAVESSIA INVISÍVEL

Depois de algum tempo caminhando em silêncio, Ferhélin rompeu a quietude com uma pergunta:
— O que significa mudança para você?
A Menina Mestra olhou para a água de um riacho que descia da montanha em direção ao lago e respondeu com suavidade:
— A água é sempre água, não é? Agora, ela corre líquida diante de nós. Mas se voltarmos aqui no inverno, talvez a encontremos congelada — sólida, imóvel. A essência continua sendo a mesma. O que muda é o estado.
Ela fez uma pausa, observando o fluxo do riacho.
— Penso que as mudanças seguem esse caminho: uma transformação de estado. E entre um estado e outro, há sempre uma fase de transição. É nesse intervalo que nasce o sentimento de insegurança.
Ferhélin escutava com atenção, tocada pela clareza da jovem.
— Quando estamos em transição — como agora, no mundo — é como se estivéssemos deixando para trás a segurança de certos valores e paradigmas. Mas ainda não chegamos ao novo estado. Por isso, sentimos esse desconforto, essa instabilidade.
Ferhélin, encantada com a profundidade da conversa, perguntou:
— E o que você acha deste momento do mundo? O que é mais importante fazer?
A Menina Mestra, com alguns fios de cabelo dançando sobre a testa, refletiu por alguns instantes antes de responder:
— Acho que as pessoas precisam entender que estamos vivendo uma travessia. Não há erro da natureza, nem de Deus. Estamos num momento específico — e ele faz parte do processo.
Ela olhou para o riacho mais uma vez.
— É como deixar as margens do rio, onde há segurança, e começar a nadar na correnteza. São condições completamente diferentes. A humanidade está agora na correnteza — deixando para trás a falsa segurança dos antigos valores, que estão se transformando.
Confiar no processo

— Minha sensação — disse a Menina Mestra, olhando para o riacho — é que a humanidade está atravessando uma transição como nunca viveu nos últimos dois milênios.
Ela falava com serenidade, como quem observa o mundo de dentro para fora.
— E nessa travessia, não adianta racionalizar cada passo. Não é o momento para isso. O questionamento é útil, sim — mas precisa surgir na hora certa. Pode vir antes, pode vir depois… Mas se insistirmos em questionar durante o processo, corremos o risco de interferir na própria transformação.
Ferhélin, tocada pela clareza daquela ideia, sorriu e comentou:
— Interessante…
E então, com um gesto gentil, convidou a Menina Mestra para tomar um café.
Escutando com o Coração
Lá foram elas, com as mochilas às costas, caminhando em direção a um hotel próximo à entrada do lago.
Na cafeteria do hotel, um salão acolhedor e iluminado, sentaram-se confortavelmente. Conversavam com leveza, saboreando o café e a companhia uma da outra. Rapidamente haviam se tornado próximas — como se a amizade já existisse antes do encontro.
A Menina Mestra compartilhava suas ideias sobre como viver num mundo em transição. Não acreditava mais nos velhos padrões, nem na forma dissimulada com que muitos líderes ignoravam que o mundo — e eles próprios — precisavam mudar.

Ferhélin sorria, sentindo-se à vontade ao lado daquela jovem tão singular.
— Como você lida com tantas opiniões no dia a dia? Quando escutar? O que considerar? — perguntou Ferhélin.
— Percebo que, quando escutamos com o coração, há uma abertura real para a percepção e para o diálogo — respondeu a Menina Mestra. — Você sente o que te toca… ou não. É sutil, mas perceptível. Não é a razão que atua nesse momento — é algo mais delicado, mais profundo.
Ela fez uma pausa, depois continuou:
— Quando racionalizamos demais, surgem dúvidas, bloqueios… Tudo pode ser questionado — essa é a função da razão, não é? Mas tudo também pode ser percebido — e essa é a função da intuição. Isso funciona para artistas, para pintores… por que não funcionaria para todos nós?
Ferhélin assentiu, tocada pela clareza da ideia.
— Quando usamos a razão no momento errado, cortamos o fluxo da vontade natural e da criatividade. Passamos a nos preocupar mais com as formas do que com a essência.
— Os grandes artistas podem dominar técnicas, estudar muito… Mas nas obras-primas, eles vão além. Usam a intuição. Eles percebem algo que vem de dentro — algo que não se ensina.
— Quando escutamos com o coração, a razão e a intuição trabalham juntas. E então, sentimos se aquilo tem a ver conosco — e deixamos a razão fluir. Se algo não me toca, eu simplesmente ignoro. Não gasto tempo analisando. Fico na minha.
— E como você faz isso? — perguntou Ferhélin.
— Primeiro, lembro que toda razão se apoia em referências. Mas de onde elas vêm? De opiniões alheias, padrões sociais, culturas dominantes… Essas referências influenciam demais — e acabam sufocando a intuição.
— Quando usamos a intuição, não deixamos de usar a razão. Mas se escutamos primeiro com a razão… adeus intuição.
— Escutar com o coração é suspender as referências por um tempo. E aí, a razão pode vir depois — mais limpa, mais verdadeira.
Ela sorriu, enquanto alguns fios dourados caíam sobre sua testa e cobriam seus olhos.
— Mas como faz isso na prática? — insistiu Ferhélin.
— Depende. Não tenho uma fórmula. Se estou vendo TV e o programa não me agrada, mudo de canal ou desligo. Se há outras pessoas assistindo, saio e vou fazer outra coisa.
— Se estou com alguém e percebo que o assunto está ficando negativo, tento mudar o rumo da conversa. Jogo um gancho no ar, puxo outro tema, mais leve. Violência, fofocas… tudo isso carrega uma energia pesada. Então, tento desviar. E se não funciona, saio sutilmente.
— Faço isso nos intervalos da escola, mas cabe em qualquer situação. Em grupos, é mais fácil. As pessoas falam por falar — o que surgir vira o centro da conversa. Se me sinto mal com o tema, lanço outro. E se não pega, me retiro com delicadeza.
Elas bebiam o café, saboreando também o conforto daquele salão acolhedor.
— Acho que funciona assim — disse a Menina Mestra. — Os cientistas têm um insight, depois elaboram a ideia. Se acham que vale, fazem experimentos para comprovar. É assim que a ciência funciona, certo?
Ferhélin ficou em silêncio por um tempo, depois comentou:
— Às vezes, tenho muitos questionamentos. Eles me ajudam a amadurecer ideias, a entender melhor o que está acontecendo. Mas em outras ocasiões, sinto que quebram o ritmo.
A Menina Mestra, com o piercing brilhando discretamente em seu nariz, pareceu lembrar de algo importante:
— Em uma coisa eu acredito: questionar antes ou depois — mas não durante. Tudo tem três partes: antes da ação, durante e depois. Os questionamentos são bem-vindos antes e depois. Mas durante… quase nunca funcionam.
Ela falava com simplicidade, sem se sentir dona das ideias. Ferhélin percebia: aquela jovem era uma pensadora. As ideias eram suas companheiras constantes.
— E qual o problema em questionar durante o processo? — perguntou Ferhélin.
— O problema é simples: você perde o fluxo natural do que está sendo construído. Interrompe a interação intuitiva. A percepção se retrai. Você se desconecta do que estava fazendo.
Ela olhou para Ferhélin com ternura.
— É como se houvesse uma quebra entre você — o criador — e a criação. E isso muda tudo.
A SABEDORIA DO FLUIR
— Quando perdemos a conexão sutil com o que fazemos — disse a Menina Mestra — tudo começa a se engessar. Os métodos, os gestos, até os pensamentos. E aquilo que deveria fluir livremente começa a tropeçar em obstáculos e barreiras.

Ela fez uma pausa, depois continuou com um sorriso tranquilo:
— Aí surgem os especialistas do mundo moderno, com soluções para superar os obstáculos. Mas percebe? Se a conexão não tivesse sido perdida, os obstáculos nem existiriam.
— Quando interrompemos o fluxo que nos levaria ao nosso destino, desviamos o rumo natural da vida — disse ela, como se estivesse afirmando algo óbvio.
E para ela era, pensou Ferhélin, surpresa e encantada com a clareza daquela jovem.
Ferhélin então lembrou dos próprios projetos interrompidos — ideias que começavam com entusiasmo, mas perdiam força no caminho. O propósito inicial se dissolvia, e o que restava era um sentimento de abandono, como se algo tivesse perdido o sentido… sem que ela soubesse exatamente o quê.
A Menina Mestra prosseguiu:
— Quando isso vira hábito, nasce a insegurança. A dúvida se instala: Será que estou fazendo o certo? E essa dúvida distorce a criatividade. A pessoa começa a se moldar a padrões, como se fosse uma obrigação segui-los.
Ferhélin assentiu em silêncio, tocada pela verdade daquelas palavras.
— O café estava uma delícia, mas acho que é hora de irmos — disse ela, com um sorriso.
— Estou numa pousada aqui perto — respondeu a Menina Mestra.
Era a mesma pousada de Ferhélin. Ambas sorriram com a coincidência. Seguiriam juntas.
Escutar com o coração. Confiar na intuição. Essa era a mensagem que Ferhélin levaria daquela tarde.
A FOGUEIRA… O VIOLÃO … A INTUIÇÃO

Logo estavam a caminho da pousada, entre as montanhas silenciosas que abraçavam o Lago Louise. Ferhélin e a Menina Mestra caminhavam lado a lado, em silêncio — como quem já não precisa de palavras para se entender.
Após o jantar, combinaram de se reencontrar para o encerramento da noite.
Nos fundos da pousada, um gramado aberto sob o céu estrelado acolhia um pequeno grupo em torno de uma fogueira recém-acendida. As chamas dançavam no escuro, e cerca de dez pessoas se reuniam ali, aquecendo-se com o calor do fogo — e da presença umas das outras.
Ferhélin, tomada por uma alegria suave e profunda, observava a amiga à sua frente. A Menina Mestra estava encolhida, mãos entrelaçadas, cabelos soltos esvoaçando com a brisa da noite. Seu olhar mergulhava nas chamas — como quem conversa com o invisível, como quem escuta o mundo por dentro.
Um rapaz dedilhava o violão com delicadeza. As notas flutuavam no ar, misturando-se ao crepitar da lenha e ao silêncio respeitoso dos que ali estavam. Era mais uma noite nas Montanhas Rochosas — e Ferhélin sentia, com clareza, que estava aprendendo a viver de um novo jeito.
Ao se deitar, sentia o quanto a presença da Menina Mestra lhe havia acrescentado. Pensava em como há encontros que não se explicam — apenas transformam. Naquele dia, saiu em busca de paisagens… e encontrou uma alma que lhe mostrou caminhos invisíveis.
Na escuta silenciosa, na pausa entre palavras, nas chamas que dançavam sob o céu das Rochosas, ela compreendeu: A vida não se mede em ações, mas em presença. E escutar com o coração é o primeiro passo para transformar o mundo — começando por si mesma.
Logo após fazer suas anotações, adormeceu com o coração aquecido, a alma em paz e a intuição desperta — como quem sabe que algo mudou, mesmo sem saber exatamente o quê.


A MENINA MESTRA
SÉRIE: “OUVINDO AS ESTRELAS”
COPYRIGHT © H. S. SILVA
ISBN – Nº 978-65-01-36100-0
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SONHANDO, FORA DA CAIXA
Minilivros‘Ouvindo as Estrelas’
Autor: H. S. Silva
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SOBRE OS MINILIVROS
OUVINDO AS ESTRELAS
Os minilivros da série OUVINDO AS ESTRELAS descrevem encontros de uma jovem cientista (Ferhélin) – personagem central do livro, durante sua jornada em terras canadenses. Grande parte dos minilivros tem como cenário as Rochosas Canadenses, com seus cenários únicos e encantadores, nos quais a magia dos cenários funde-se com perspectivas e revelações, aprendizagens e entendimentos que proporcionam a Ferhélin experiências que a ajudam a transcender sua forma de pensar e enxergar o mundo e as pessoas, as ciências e a espiritualidade. Experiências essas que são compartilhadas nos minilivros, o que os leitores poderão atestar no decorrer da sua leitura, conforme os encontros são relatados.
Propósito do site Intuição.com:
Estabelecer, inspirar e fortalecer elos de esperança junto aos que estão na jornada de fazer deste um mundo melhor.
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