Vegetarianismo - Entrevista com o Dr. Eric

Vegetarianismo - Entrevista com o Dr. Eric

Vegetarianismo – Entrevista com o Dr. Eric.



Jornalista: Mirela Claudino

Mirela: O que um vegetariano come?

Dr Eric Slywitch: É mais simples responder o que um vegetariano não come. Costumo dizer que o vegetariano não come nada que fuja, ou esboce reação de fuga, quando está vivo. Portanto, carne de qualquer tipo, inclusive de frango, peixe, scargot …

Mirela: Conheço vegetarianos que comem peixe. O que você me diz disso?

Dr Eric Slywitch: Se uma pessoa come peixe, ou qualquer outro tipo de carne, mesmo que seja ocasionalmente, ela não é vegetariana. Existe o que chamamos de semi-vegetariano: são os indivíduos que utilizam carnes ocasionalmente (em uma ou duas refeições na semana).

Mirela: E sobre os vegetarianos que utilizam ovos e derivados de leite. Eles também não são considerados vegetarianos?

Dr Eric Slywitch:
Nesse caso é diferente. Os ovos e o leite não “fogem quando vivos”. A maioria dos vegetarianos faz uso desses alimentos.

Mirela: Quer dizer que existem diferentes formas de se fazer uma dieta vegetariana, mas o que todas têm em comum é o fato de não utilizarem as carnes?

Dr Eric Slywitch: Exatamente. Com relação às diferentes formas de vegetarianismo, a inclusão, ou exclusão dos produtos derivados de animais (ovos e lácteos) determinam o tipo de vegetarianismo adotado. Dessa forma teremos:

– ovo-lacto-vegetarianos : utilizam ovos e lácteos;
– lacto-vegetarianos : utilizam derivados de leite, mas não os ovos;
– ovo-vegetarianos : utilizam ovos, mas não os lácteos;
– vegano : não utiliza nenhum produto derivado do reino animal. É considerada a forma mais pura de vegetarianismo.

Mirela: Mas voltando à pergunta inicial: o que um vegetariano come?

Dr Eric Slywitch:
Temos todo o reino vegetal para utilizar como alimento: cereais (arroz, trigo, centeio, milho, cevadinha, aveia… Aqui incluímos os pães e massas), leguminosas (todos os feijões, grão-de-bico, lentilha, ervilha…), oleaginosas (nozes, amêndoas, pistache, sementes de girassol …), tubérculos (inhame, batata, cará, mandioca, mandioquinha…), legumes, verduras e frutas. Alguns incluem leite, queijo e ovos. Carne jamais !.
Resumindo: o vegetariano come tudo o que qualquer pessoa come, retirando a carne e os derivados animais (no caso dos veganos).

Mirela: O que é a macrobiótica?

Dr Eric Slywitch: A macrobiótica é uma forma muito particular de alimentação. É baseada em princípios filosóficos, classificando tudo o que existe no universo em Yin e Yang. Com o objetivo de equilibrar o organismo, os alimentos são escolhidos dentro desses princípios. Os cereais integrais são a base da alimentação. Os alimentos devem ser isentos de aditivos químicos, conservantes, estabilizantes …

Mirela: A dieta macrobiótica é vegetariana?

Dr Eric Slywitch: Não necessariamente. As carnes brancas podem ser utilizadas ocasionalmente. No entanto, é recomendado não utilizá-las. A macrobiótica não utiliza leite ou seus derivados.

Mirela: Uma dieta vegetariana traz riscos à saúde?

Dr Eric Slywitch:
Qualquer dieta mal planejada, com ou sem carne, pode ser nociva. Com relação ao vegetarianismo não é diferente. A dieta vegetariana bem planejada é totalmente segura.

Mirela: Adotar uma dieta vegetariana traz benefícios à saúde?

Dr Eric Slywitch:
Sim, muitos. O posicionamento da ADA (American Dietetic Association) e nutricionistas do Canadá de 2003 reúne os principais estudos científicos sérios sobre vegetarianismo. Os resultados encontrados são impressionantes:

– redução das mortes por infarto (doença cardíaca isquêmica) em 30% em homens e 20% em mulheres vegetarianas (estudo com 76 mil indivíduos);
– níveis sanguíneos de colesterol até 35% mais baixos nos vegetarianos;
– menor pressão arterial (redução de 5 a 10 mmHg) nos vegetarianos;
– redução de até 50% do risco de apresentar doença diverticular nos vegetarianos;
– redução de até 50% do risco de apresentar diabetes nos vegetarianos;
– probabilidade duas vezes menor de apresentar pedras na vesícula nas mulheres vegetarianas;
– os não vegetarianos têm um risco 54% maior de ter câncer de próstata e 88 % maior de ter câncer de intestino grosso;
– aparentemente, o consumo de carne aumenta em até 3 vezes as chances de desenvolver demência cererebral;
– aparentemente uma dieta vegetariana sem derivados animais e com predominância de alimentos crus reduz os sintomas de fibromialgia.
Mirela: Com todos esses aspectos positivos, por que os profissionais de saúde não gostam da dieta vegetariana ?

Dr Eric Slywitch: Os profissionais de saúde que não gostam da dieta vegetariana são aqueles que não estudam sobre o assunto. A formação acadêmica deixa muito a desejar quando o assunto é vegetarianismo.

Encontramos muitos profissionais que pensam que o vegetariano vive de salada. A maioria se sente perdido quando solicitado a montar um cardápio vegetariano. O medo do desconhecido é natural para qualquer ser humano. Fica mais fácil dizer que é difícil ou nocivo ser vegetariano.
Os estudos científicos antigos estavam preocupados em verificar se era possível uma adequação nutricional com uma dieta vegetariana. Muitos profissionais ainda estão vivendo nesse passado. Atualmente não há dúvidas científicas dessa adequação. Infelizmente, a resposta a essa pergunta é: falta de atualização científica dos profissionais.
O parecer da ADA (American Dietetic Association) e nutricionistas do Canadá de 2003 é de que os profissionais de saúde têm o dever de incentivar e apoiar os indivíduos que expressam desejo de se tornarem vegetarianos.

Mirela: Quais sao os principais nutrientes dentro da dieta vegetariana que merecem atenção?

Dr Eric Slywitch: Os estudos demonstram que apenas a vitamina B12 pode estar em quantidade inadequada numa dieta sem derivados animais (leia mais no tópico de nutrição do site: www.guiavegano.com). Todos os outros nutrientes podem ser adequadamente supridos mesmo quando os ovos e lácteos não são utilizados. A maioria dos nutrientes ingeridos (vitaminas e minerais) ultrapassa as quantidades ingeridas dos comedores de carne. Ao se elaborar um cardápio para um vegetariano deve-se enfatizar os alimentos com os seguintes nutrientes: zinco, ferro, cálcio, vitamina B2, B12 e gorduras do tipo w-3. Se a exposição solar não for adequada devemos também enfatizar a vitamina D.

Mirela: E com relação à proteína?

Dr Eric Slywitch: Esse é um dos grandes mitos sobre o vegetarianismo. Se o indivíduo atinge as suas necessidades calóricas com alimentos baseados em grãos, automaticamente a sua cota protéica com todos os aminoácidos essenciais é atingida. Os maiores estudos sobre o assunto (meta-análise) demonstram que não há diferença na incorporação da proteína no corpo quando ela é proveniente do reino animal ou vegetal.
Existem marcadores sanguíneos que podem ser dosados para verificar o “estado protéico” da pessoa. A albumina sanguínea é um deles. Veganos têm níveis sanguíneos significativamente mais altos do que não vegetarianos, evidenciando um ótimo perfil de nutrição protéica.

Mirela: É necessário fazer suplementação de vitaminas, minerais ou proteínas ao se tornar vegetariano?

Dr Eric Slywitch: Se a sua alimentação for bem planejada e incluir ovos e/ou leite regularmente não é necessário nenhum suplemento. Caso todos os derivados animais sejam excluídos da dieta deve-se ficar atento à vitamina B12, suplementando-a se necessário (leia mais no tópico de nutrição do site: www.guiavegano.com).
É indiscutível a suplementação de vitamina B12 durante a gestação, lactação e infância.

Mirela: A alimentação vegetariana e compatível com uma atividade física intensa?

Dr Eric Slywitch: Sim, claro! A partir do momento que uma dieta supre todos os nutrientes essenciais não há motivos para qualquer limitação.

Mirela: Segundo pesquisas, alimentos vegetarianos não contém vitamina B12, importante para para o sistema nervoso e presente nos produtos de origem animal. O vegetariano deve suprir essa vitamina na forma de cápsulas ou ela não é essencial ao organismo? E aqueles que também não consomem leite e ovo?

Dr Eric Slywitch: A vitamina B12 está realmente apenas presente nos alimentos de origem animal em quantidade significativa. Devemos lembrar que leite, queijos e ovos são de origem animal e contém essa vitamina. A maioria dos vegetarianos utiliza esses alimentos. Se o uso deles for regular não é necessário utilizar suplementos.
Para aqueles que excluem todos os derivados animais deve-se utilizar alimentos fortificados com B12 ou suplementação por via oral.

Mirela: Uma criança pode se alimentar apenas com alimentos macrobióticos? E uma mulher grávida?

Dr Eric Slywitch: A dieta macrobiótica também exige atenções especiais. Ela não inclui leite e derivados, mas pode utilizar ocasionalmente carnes brancas e ovos. Pela pequena quantidade utilizada não garante a oferta de B12.
Crianças, gestantes e adultos macrobióticos devem receber suplementação de B12. Quanto aos demais nutrientes, é possível obtê-los na dieta macrobiótica, mas deve haver bastante atenção pois esse tipo de dieta não apresenta uma grande variedade de grupos alimentares, já que é constituída de pelo menos 60% de cereais integrais. Devido ao fato de utilizar quase todos os alimentos cozidos deve-se estar atento às vitaminas que se perdem com o aquecimento, principalmente à vitamina C.

Mirela: Você daria algum conselho para as pessoas que estão se tornando vegetarianas?

Dr Eric Slywitch: Procurar um nutricionista e/ou um médico nutrólogo para orientações seria muito bom. Infelizmente são raros os que trabalham com vegetarianos.
Procure basear a sua alimentação em grãos integrais. Ninguém se sustenta apenas com salada! Salada faz parte, mas não deve ser base da alimentação. Procure variar os grupos (cereais, leguminosas, tubérculos, oleaginosas, frutas, verduras e legumes) de alimentos ingeridos. É muito importante atingir a necessidade energética diária.
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Entrevista concedida em 12/01/2008

Dr Eric Slywitch, médico especialista em nutrição, Especialista em Nutrição Parenteral e Enteral (pela SBNPE – Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral), Pós-graduado em Nutrição Clínica, Coordenador da EMTN (Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional) do Hospital Evaldo Foz – São Paulo / SP, Pós graduando em nutrição pela UNIFESP e Coordenador do Departamento de Medicina e Nutrição da Sociedade Vegetariana Brasileira)

Foto: pixabay