As Quatro Faces da Mulher

As Quatro Faces da Mulher

As Quatro Faces da Mulher.

Por Caroline Ward

Uma breve história do tempo – a história das mulheres através das épocas

Qual é a jornada da alma humana se não uma jornada de volta à inocência?

Havia uma linda garotinha. Seu espírito brilhava como os múltiplos raios do sol. Todos ficavam encantados com a sua companhia; ela era natural, livre e a própria personificação da alegria. Ela confiava em todo o mundo e essa confiança retornava para ela.

Quando as pessoas se encontravam com ela, elas não conseguiam deixar de sorrir espontaneamente. Ela tinha o poder de transformar até mesmo a mais triste das almas. Sua pureza era poder, conduzindo todos que a viam de volta para a lembrança de sua própria liberdade – o tipo de liberdade que dava origem ao completo encantamento e que saudava os estranhos que passavam. Era uma liberdade que brincava, dançava e pintava sem nenhum medo de julgamento. Essa liberdade da garotinha era a liberdade da Inocência. Em seus olhos, você encontraria um interesse natural pelas coisas novas, uma curiosidade que a levava ao desconhecido, àquilo que ainda estava por ser descoberto. Era a alegria de aprender, a arte de viver. Ela parecia de alguma forma destemida e vivia assim muito feliz. Não tinha noção de perigo, e nenhuma idéia do que significava estar seguro. A sua vida era plenamente feliz.

Ela era livre. Poderosa. Ela era a Inocência. Ela vivia na essência da Face Eterna.

Logo, os adultos que a acompanhavam começaram a temer pela sua segurança. Eles ansiavam em protegê-la, em manter sua Inocência limpa e segura, longe das intenções impuras dos outros. E então eles começaram a levantar cercas, fronteiras invisíveis a fim de afastar os maliciosos. Eles amavam tão profundamente aquela garotinha e o seu coração puro que fizeram tudo o que podiam para protegê-la. Criaram regras e normas de procedimento para mantê-la ali e os outros fora. Estavam determinados a cuidar desse precioso presente de espírito livre que lhes havia sido entregue para cuidar. Outros adultos sentiam o mesmo sobre as suas Inocentes, e então, todos os adultos começaram a criar regras e regulamentos comuns. Isso manteria realmente suas belas Inocentes em segurança. E as Inocentes cresceram. E se um dia haviam se alegrado na doce perseguição de uma brisa agradável em um campo aberto, ou na subida incerta de uma velha árvore áspera e sábia, agora não podiam mais fazer o que seus espíritos desejavam. As regras diziam que havia criaturas obscuras da floresta e que o campo era muito aberto, deixando-as sozinhas e vulneráveis. Elas começaram a encolher em seu ser. A energia abundante que era a pura expressão da alma começou a se contrair. E elas cresceram. E a lista de regras cresceu. Mas agora, nem todas as regras eram faladas ou escritas. Às vezes havia coisas que as Inocentes já sabiam. Elas podiam deduzir os limites e as fronteiras construídas e se ajustavam a elas.

As tradições se tornaram lei e a lei não podia ser quebrada. Logo, todos esqueceram o motivo pelo qual as regras foram criadas, e só se lembravam das regras em si. Vendo de uma boa forma, as regras eram suficientemente sufocantes; vendo de uma forma ruim, elas se tornaram como um nó estrangulante. E elas cresceram. E elas encolheram. Na medida em que cresciam e encolhiam, algumas se lembraram que nem sempre foi daquele jeito, outras haviam esquecido como era quando havia Inocência e, ainda, havia aquelas que achavam mais fácil não se lembrar, porque no esquecimento havia uma pequena parcela de paz. Pelo menos elas não iriam acordar no meio da noite irritadas, praguejando e desejando que tivessem morrido, ou seus pais, ou ambos.

Agora elas estavam limitadas. Confinadas. Aprisionadas. Elas usavam a Face Tradicional.

Aquelas que haviam esquecido e aquelas que escolheram esquecer continuavam como estavam. Sem felicidade, sem amar, sem serem livres. De fato entorpecidas, mas com uma profunda sensação de segurança. As regras as protegiam do que estava fora de registro – o território desconhecido além do portão do medo.

Mas para aquelas que não podiam deixar de se lembrar da liberdade e da antiga experiência de encanto irrestrito, para aquelas agora não tão inocentes, era uma grande tristeza. Elas estavam aprisionadas com as amarras invisíveis do pensamento, com as fronteiras irredutíveis das tradições.

Quando a dor se tornou muito grande, quando a tristeza explodiu como a fúria da água branca, o terror da prisão foi pintado nos seus corações como grafite na parede de pedras antigas do parlamento.

As não tão inocentes se rebelaram. Elas reuniram coragem e defenderam sua visão de liberdade. Elas o fizeram sozinhas em suas casas, igrejas e em suas comunidades. Elas se rebelaram juntas. Criaram revoluções. Lutaram desesperadamente para obter novamente sua semi-relembrada liberdade, mas a sua luta e o seu ódio se tornaram prisões por si só.

Isso elas não viram. Pela primeira vez, depois de muito tempo, elas sentiram alívio. Pelo menos não precisavam mais seguir aquelas regras sem sentido. Na verdade, elas mesmas começaram a elaborar regras. Novas regras, regras modernas. Regras que afastavam o passado. Regras que negavam as antigas tradições. Elas construíram fronteiras de separação e aversão. Elas criaram paredes de ódio. E pensavam que eram livres, mas não eram. Elas haviam criado uma revolução ao voltarem-se para onde haviam começado.

Elas haviam construído sua própria prisão. E ficaram cegas pelas grades que haviam soldado. Elas ficaram perdidas. Elas usavam a Face Moderna.

E quando se tornaram mulheres muito, muito cansadas, quando não podiam ficar mais perdidas, desesperadas nem mais desesperançosas do que estavam, foi então que ficaram verdadeiramente prontas. Somente então o ego as permitiu ouvir a Voz da Inocência e sentir na tranqüilidade o Poder daquela Inocência. No ponto em que tudo parecia completamente sem propósito, o propósito era revelado. No momento em que se tornaram absolutamente exaustas, elas conheceram o caminho para a plenitude. Elas começaram a deixar o ódio; e começaram a buscar a luz ao invés de aceitar a escuridão. Conforme as não tão inocentes erguiam-se cautelosamente das sombras, elas foram acima de tudo o que conscientemente conheciam e começaram a fazer suas perguntas. Dependendo do quão ansiosas estavam, dependendo do desejo de realizar a jornada através da escuridão de sua cegueira, dependendo da capacidade de cada uma de se render à grande necessidade do grito de esperança da humanidade, dependendo de tudo isso, cada uma então abraçou a sabedoria. Elas faziam perguntas como: “Quem sou eu?, Quem é Deus?, Qual o sentido da vida?”. E, porque seus corações eram honestos e verdadeiros, porque suas perguntas vinham do centro de sua Inocência que assentava-se bem no fundo de si, escondida e esperando todo o tempo até que o sol brilhasse novamente, então, por causa disso, suas perguntas foram respondidas.

Foi-lhes ensinado sobre seu eu eterno, aquele com a verdade em seu íntimo. Aquele eu belo que está sempre ali, ocasionalmente revelando-se para atuar e para apenas ser liberado com uma palavra concisa exigindo a séria maturidade. Foi-lhes dito que este eu é o poder de mudar o mundo e que, de fato, se uma quantidade suficiente dessas mulheres pudesse destrancar a porta e deixar aquele eu de verdade atuar completamente em suas vidas, então aquela força gentil da Inocência transformaria tudo. Elas mudariam um por um e, à medida que cada um mudasse, um exército de Inocência seria formado e esse exército seria mais poderoso que todas as armas de fogo juntas do mundo moderno.

Entretanto, antes que essas mulheres pudessem empenhar-se na jornada, elas precisavam saber que esse eu puro estaria a salvo das destruições do mundo cruel que elas conheciam tão bem. Elas sabiam que a Inocência precisava de uma proteção que não fosse a proteção limitada e sufocante da Face Tradicional. E elas deveriam permanecer livres de reações de raiva e das rebeliões feitas com fúria da Face Moderna. Elas precisavam de poder puro ilimitado se quisessem terminar com os vícios, os hábitos e os padrões que caracterizavam essas duas faces. Elas precisavam de uma Fonte Suprema de energia pura de onde pudessem retirar a força para realizar a jornada de volta à sua identidade Inocente.

E então aconteceu que essa própria Fonte revelou-se para essas mulheres. Ela lhes fez reivindicar como seu direito de nascimento todo o poder puro que pediam e, em retorno, esse ser divino lhes pediu somente uma coisa: “Entreguem-se a mim, deixem-me usar sua visão, sua esperança, sua intenção pura. Deixem-me abraçar seu belo eu inocente e façam-no brilhar como um diamante para que todo mundo veja. Sejam meu instrumento, minhas mãos, minha voz, meus olhos divinos. Ajudem-me a levar cada um para o lar, para a Inocência e para mim. Vocês e os outros como vocês são a esperança para o seu mundo. Guardem esse momento para estarem sozinhas comigo e, juntos, poderemos trazer amor e paz de volta à terra ferida”.

E então elas fizeram o que lhes havia sido pedido. Voltaram a viver na experiência de sua Inocência com os poderes da Fonte de proteção e de libertação. Elas fizeram com que os outros gostassem de si mesmos e mudassem seus mundos.

Elas se tornaram inocentes. Elas foram preenchidas com alegria. Elas ficaram em paz. Elas estavam vivendo a verdade da face da Shakti.


Caroline Ward
iniciou sua carreira em Artes Cênicas e em 1997 fundou a empresa de consultoria em mudanças About People. Caroline pratica e ensina meditação há mais de 15 anos. Caroline foi uma pioneira ao trazer a Inteligência Espiritual e a arte às empresas na Austrália, ganhando uma reputação por ter sido capaz de atrair os corações e as mentes de pessoas em todos os níveis de uma organização. Ela promove treinamento de liderança, continua envolvida e trabalha com o programa internacional de mulheres, As quatro faces da mulher.