Uma jornada entre montanhas, silêncios e luz. Em meio à natureza selvagem e ao calor de uma fogueira, Ferhélin encontra um mestre que não ensina com palavras, mas com presença. O Mestre Intuitivo é um convite à escuta interior, à leveza das escolhas e à beleza de perceber o invisível. Para quem busca mais do que respostas — busca sintonia. Confira!
(tempo médio de leitura- 25 min)
Série OUVINDO AS ESTRELAS

Introdução
Há encontros que não se explicam — apenas acontecem. Como o fogo que arde sem fazer alarde, como o silêncio que cura sem dizer palavra.
Este minilivro é uma travessia por paisagens externas e internas. Ferhélin, uma caminhante sensível, encontra nas montanhas da Edith Cavell não apenas trilhas, mas reflexões. E junto à fogueira, conhece o Mestre Intuitivo — um homem que não ensina com fórmulas, mas com presença.
Cada capítulo é um convite à escuta, à pausa, à respiração. Um chamado para quem deseja viver com mais leveza, clareza e verdade.
Este não é um livro de respostas. É um livro de sintonias.
Sumário – Minilivro 13: ‘O MESTRE INTUITIVO’
- Caminhos que Tocam a Alma – a chegada de Ferhélin à Montanha Edith Cavell e o primeiro encontro com o Mestre Intuitivo.
- Quando o Silêncio Cura – sobre os sonhos inquietantes de Ferhélin e o início da caminhada com o Mestre.
- A Luz que Dissolve – sobre o exercício de respiração e dissolução das energias nocivas.
- A Arte de Perceber – sobre como os sonhos funcionam como campo de observação e como a percepção transcende o intelecto.
- Quando Razão Escuta a Intuição – sobre a integração entre razão e intuição como caminho para escolhas mais conscientes.
- Aprendendo com a Flor de Lótus – sobre a flor de lótus como símbolo de pureza e sobre os três pilares: caminho, luz e vida.
- O Magnetismo das Palavras – sobre o poder das palavras, suas combinações mágicas e a frase sagrada que conecta caminho, verdade e vida.
- Ao Redor da Fogueira – sobre as crenças, os princípios e a visão limitada do mundo material. O Mestre compartilha sua forma de enxergar a vida com plenitude.
- Em Sintonia com o Universo – sobre a essência espiritual, os papéis que desempenhamos, os sonhos como espelhos e o momento em que a vida começa a conspirar a nosso favor.
Dedicatória
Aos que caminham com o coração aberto, aos que escutam o silêncio, aos que se permitem sentir antes de entender.
Este livro é dedicado a você — que busca sentido nas entrelinhas da vida, que conversa com o vento, que encontra mestres em encontros improváveis e que sabe que a luz não se impõe, apenas se escolhe.
Que estas páginas sejam como uma fogueira acesa no centro do peito, aquecendo, iluminando e lembrando: a vida conspira a favor de quem caminha com verdade.
Com carinho e gratidão,
H. S. Silva
minilivro 13
O Mestre Intuitivo
De acordo com as escolhas,
a vida se encaminhará naquele sentido
1. Caminhos que Tocam a Alma
Os dias passavam, e poucas pessoas apareciam na Montanha Edith Cavell. As que vinham eram visitantes que Ferhélin via apenas de relance. Em geral, eram caminhantes que permaneciam de uma semana a dez dias, explorando trilhas que levavam às geleiras da região e às montanhas ao redor. Eram, em sua maioria, pessoas que carregavam dentro de si o espírito da aventura — independentes, corajosas, destemidas.
Embora não estivesse tão distante da civilização, aquele lugar exigia uma travessia mais íntima: um chamado à vida interior e à comunhão com a natureza. Era comum encontrar ursos e outros animais selvagens caminhando livremente pelas montanhas. Ali, eles eram os verdadeiros habitantes. Os humanos, apenas visitantes.
Ferhélin passava a maior parte do tempo sozinha, percorrendo trilhas e explorando os arredores do alojamento. Descobrira caminhos que a levavam a lugares maravilhosos, como geleiras e lagos. Suas visitas à natureza duravam apenas o dia — nunca eram longas — e ela sempre retornava ao alojamento ao final da tarde.
À noite, costumava sentar-se nos bancos de madeira espalhados pela área externa. Alguns formavam uma espécie de círculo e, no centro, geralmente uma fogueira era acesa. De um lado ficava o alojamento; do outro, as árvores. Era ali que os hóspedes se reuniam. Não havia muita conversa — apenas companhia, quase sempre silenciosa — ao redor do fogo, admirando as chamas que ardiam em silêncio.
Foi em uma dessas noites, junto à fogueira, que Ferhélin conheceu alguém que, como ela, não era um aventureiro completo. Ele se definia como um semiaventureiro. Ficaria pouco mais de um dia e não se arriscaria sozinho pelas geleiras e montanhas. Pretendia apenas visitar a geleira mais próxima e explorar os lagos e montanhas da região, mantendo o alojamento como base.
Era um homem de pele morena clara, estatura mediana, calvo, com rabo de cavalo e óculos. Aparentava ter pouco mais de quarenta anos. Terapeuta, autor de alguns livros, de nacionalidade espanhola. Ferhélin o chamou de Mestre Intuitivo.
Ao redor da fogueira, trocaram algumas palavras. Houve entre eles uma sintonia sutil, percebida nos olhares. Combinaram de se encontrar no café da manhã.
2. Quando o Silêncio Cura
Ao despertar na manhã seguinte, Ferhélin permaneceu deitada por mais algum tempo, questionando-se.
Em sua mente, voavam pensamentos esparsos de desapontamento consigo mesma. — Eu quero uma vida de harmonia. Estou em um lugar magnífico, mas, mesmo assim, tive uma noite com sonhos confusos. Como é possível viver dias tão especiais e acordar tão mal?
Tentou elevar o nível de seus pensamentos, mas sentiu apenas um certo gosto de desmoronamento interior.
Após o café da manhã, ela e o Mestre Intuitivo partiram em direção a um lago — também azul — de tamanho médio, embora fosse considerado imenso em outros países. Ficava a cerca de quinze minutos de caminhada, por uma trilha cercada por árvores e montanhas.
Conversaram sobre amenidades, e Ferhélin o conduziu até um ponto com uma vista muito bonita, de onde podiam ver claramente o lago abaixo, com árvores em suas margens e a geleira à direita. O céu estava azul, sem nuvens.
Em determinado momento, Ferhélin sentiu-se mais à vontade e comentou sobre os sonhos que a inquietaram na noite anterior.
Ele, observando a paisagem, perguntou: — O que você fez à noite? Nós nos despedimos na fogueira e depois não mais nos vimos. O que fez até dormir?
Ferhélin tentou lembrar. Ainda na cama, havia lido um jornal que encontrara no alojamento. — Não me prendi a nada em particular, mas fiquei lendo fragmentos de notícias, para saber o que está acontecendo no mundo. Li um pouco sobre esportes, cultura e outros assuntos.
O mestre insistiu: — Tente lembrar-se. Você leu algo que tenha sido mais marcante?
Ela refletiu, e logo veio à mente: — Havia algumas notícias perturbadoras. Envolviam violência e drogas com crianças. Foi quando me senti um pouco deprimida.
O Mestre Intuitivo disse: — Vou conduzi-la a alguns pensamentos. Respire fundo e lentamente. Faça isso algumas vezes e aproveite para observar a natureza enquanto respira.
Ferhélin, à vontade, abriu os braços e inspirou o ar puro das montanhas. Sentia-se acolhida pela natureza. — Procure sentir-se sem peso. Apenas perceba-se. Sinta-se leve e em liberdade, como os pássaros que flutuam no céu — disse o Mestre Intuitivo.
Ela deixou-se sentir, apenas respirando e procurando integrar-se àquele cenário magnífico que os envolvia.
Ele continuava a falar, de forma sugestiva: — Neste momento, você é você mesma. Sem antes nem depois. Sem imagens, sem classificações. Apenas permitindo-se respirar e integrar-se à natureza ao seu redor.
Ferhélin inspirava de modo ritmado, levando para dentro todo o ar que conseguia e soltando-o suavemente pela boca.
Vários minutos se passaram. O Mestre Intuitivo permanecia sentado, observando o lago. Com seu jeito sossegado, disse: — Sinta toda raiva e angústia que possam estar em seu coração se dissolvendo. Sinta essa energia derretendo-se como o gelo, tornando-se água e, então, vapor. Perceba a energia negativa indo embora de você. Deixe que ela parta e se dissolva na luz que a envolve. Sinta-se em uma dimensão de luz, e toda aquela energia se despedindo de seu coração, desaparecendo em meio à luz que a cerca. Continue essa experiência pelo tempo que quiser.
Ferhélin permaneceu em silêncio por um tempo. O Mestre Intuitivo parecia imerso em um mundo particular.
Quando Ferhélin voltou de sua experiência, ele sorriu e sugeriu: — Sempre que se sentir inquieta, quando algo a perturbar mais profundamente, procure elevar seus pensamentos e sentir-se em harmonia interior. Então, dissolva essa energia e mande-a para fora de você, como fez agora. Todos os dias acumulamos um pouco dessa energia nociva, que pode vir da raiva, da arrogância, da agressividade, do medo ou do apego. Não importa de onde vem — o importante é saber desconectá-la.
3. A Luz que Dissolve
Ferhélin observava a geleira enquanto o ouvia, agora aliviada e sentindo-se iluminada.
— Geralmente, o que nos perturba não está fora, mas dentro de nós. Há cenas, situações externas ou informações que funcionam como injeções letais em nossas mentes. Elas são nocivas porque há algo em nós que reage, formando uma imagem venenosa em nosso interior. Procure simplesmente se desfazer delas. Deixe que se dissolvam na luz.
— Mas como isso funciona? O que tem a ver com a experiência da noite anterior? Por que me perguntou sobre ela?
— Reflita um pouco. Pense se houve alguma relação.
4. A Arte de Perceber
Ferhélin silenciou por instantes. Então comentou:
— As notícias de violência podem ter a ver com a noite anterior. Sentimentos de incompreensão e desânimo vieram à minha mente enquanto eu lia. Depois, um sentimento de desesperança me invadiu. Isso teve a ver com os pesadelos, não teve?
O Mestre Intuitivo voltou-se para ela e sorriu com suavidade:
— Você é quem está dizendo. Por que acha isso?
— De acordo com o que você falou, aquelas cenas funcionaram como uma espécie de injeção em minha mente. E, combinando-se com raiva e agressividade internas, acabei tendo aqueles pesadelos. Pode ser isso? — concluiu Ferhélin, olhando para ele.
O Mestre assentiu:
— É interessante observar a nossa vida. A percepção é fundamental no processo de crescimento. E você percebeu algo com essa experiência, não foi?
— Imagine se você não tivesse feito o exercício de observação. Simplesmente teria perdido a oportunidade de crescer com ela. Muito provavelmente, teria um dia em que se sentiria mal — e talvez fosse um dia sem benefícios agregados à sua consciência.
Ferhélin refletiu em silêncio: Quantas vezes deixamos passar chances de crescer, por não as observar e não as perceber, apesar de se fazerem presentes em nossas vidas?
O Mestre prosseguiu:
— Quanto aos sonhos, acredito que algumas situações funcionam como simulações para quem os experimenta. Conforme a resposta que damos a elas, acessamos — ou não — outros níveis.
— Se a resposta for de baixa vibração, não seguimos adiante. A experiência se resume àquele nível.
— Mas se a resposta for positiva, podemos avançar. Tudo depende do estágio. Essas simulações não existem para nos prejudicar ou complicar, mas para indicar como assimilamos o aprendizado.
— Nos sonhos, nossas respostas representam algo além dos interesses, desejos ou objetivos. E isso não apenas no plano racional.
— Ao sonharmos — e nos sonhos vermos certas fraquezas, derrotas, problemas ou obstáculos — podemos interpretar como sinais que estamos recebendo. Sinais que podem nos ajudar a promover mudanças de postura em relação às atitudes da vida real.
— Nesse sentido, os sonhos funcionam como um campo de observação. Podemos interpretar em que nível a mudança de atitude se faz necessária: se apenas no plano intelectual, no mental, no emocional — ou mesmo no espiritual.
— Perceba como a observação acontece. Você faz uso da razão para observar. Mas não basta a razão para entender e discernir o que fazer e como fazer. O canal da percepção deve estar aberto e fluindo o tempo todo.
— Não é apenas uma questão intelectual. Não basta entender se algo é saudável ou nocivo. A percepção é algo que transcende o intelecto.
— Então, ao percebermos o que é saudável ou não — nos sonhos ou fora deles — fica mais fácil superar situações de fraqueza ou derrota. E evitar posturas que não gostaríamos de ter diante dos problemas ou obstáculos que podem nos perturbar e afastar de nossa caminhada.
5. Quando Razão escuta a Intuição
O verde das árvores a encantava — tantas eram suas nuances e brilhos. A água do lago e seu reflexo produziam a magia da natureza que Ferhélin experimentava, sentindo-se leve e despreocupada novamente.
Aqueles dias estavam sendo muito especiais. A harmonia que vivenciava tornava-a mais aberta e a colocava em sintonia com o melhor de si. Sentia-se profundamente agradecida.
Seu entusiasmo crescia, assim como sua vontade de agregar novos valores e aprendizagens à própria vida.
O Mestre Intuitivo comentou sobre suas reflexões e a relação com os fundamentos filosóficos da Física Quântica:
— O livre-arbítrio é uma realidade da qual se pode fazer uso — ou não. Mas mesmo o não uso é uma expressão do livre-arbítrio.
— No seu caso, ao ler as notícias no jornal, você observava aqui e ali, aleatoriamente. Não escolhia de fato. A escolha acontece quando você usa a intuição e traduz o pensamento para a razão.
— Internamente, funciona como uma voz sussurrando: “Eu quero isso” ou “Isto não tem nada a ver comigo.”
— A maior parte das pessoas ignora o uso da intuição ao fazer uma escolha. Quando você a associa à razão, experimenta maior clareza sobre o que “quer”, “precisa fazer” ou “é bom para você.”
— Ao usar apenas a intuição, você sente que a escolha é boa, mas não entende o porquê.
— Quando usa apenas a razão, acaba entrando em um ciclo de reafirmação, tentando provar — de novo e de novo — que sua escolha foi a melhor, mas nunca se convencerá completamente.
— Quando associa as duas — intuição e razão — você vive uma experiência de maior clareza na escolha.
— Ou seja, a associação da razão com a intuição é uma possibilidade real!
— Assistir a um filme é uma escolha. Mas assistir a um filme e não ser influenciado por ele é uma escolha consciente, que precisa ser ativada o tempo todo. Isso também é possível.
— Mas veja bem: só é possível quando você escolhe assim e se prepara para isso. Caso contrário, pode ser afetada por tudo que a cerca — pelo que é bom ou ruim. O bom inspira o lado luminoso. O ruim, o lado obscuro.
6. Aprendendo com a Flor de Lótus
Ferhélin apreciava o lago majestoso e sentia que poderia permanecer ali pela eternidade, tamanha era sua leveza e bem-estar.
— Como é possível escolher algo que sabemos não ser bom e, ainda assim, não ser afetada? — questionou ela.
— Esse é um desafio comum na vida de quem está no caminho da aprendizagem. Sábios e santos passaram por esses testes. É o grande desafio da vida espiritual — respondeu o Mestre Intuitivo.
Ferhélin o observava com um brilho intenso nos olhos, enquanto seus cabelos voavam soltos com a brisa que os refrescava.
O Mestre prosseguiu:
— Veja o exemplo da flor de lótus. Sua semente nasce em meio à lama — geralmente em lodos ou lagos enlameados — e, ainda assim, desabrocha e se transforma em uma flor belíssima, de pétalas esbranquiçadas e rosadas.
— É um símbolo de pureza na vida. Ela cresce em meio à imundície e à sujeira, mas permanece intacta durante toda sua existência, sem se deixar afetar pelo ambiente. Esse é o desafio de quem escolhe o caminho da luz.
— Aprender com a flor de lótus é possível. Conheço vários seres iluminados que vivem assim. Se abrirmos os olhos, veremos muitos lótus humanos. Pense em Madre Teresa de Calcutá, no Dalai Lama, nos lamas tibetanos, nos franciscanos e beneditinos, nos Raja-Yogues de Madhuban — e em tantas pessoas incógnitas, espalhadas pelo mundo. São mestres que vivem como aprendizes.
— Mas como isso é possível? — insistiu Ferhélin.
— Bem, estou nessa jornada há muito tempo e posso dizer que conheço três atitudes que influenciam nossas escolhas: o caminho, a luz e a vida. Você deve escolher seu caminho, escolher a luz sempre e escolher a vida a seu favor. São escolhas suas, apenas.
— Interessante — disse Ferhélin.
7. O Magnetismo das Palavras
O Mestre Intuitivo sorriu. Era um sorriso sereno, percebeu Ferhélin, que o escutava com atenção.
— Sempre procurei aprender com as leituras que a vida nos oferece — e elas não se apresentam apenas em livros ou textos, mas na própria vida, em suas diferentes linguagens.
— As linguagens da vida, assim como as palavras, têm mágica. E, conforme o momento, oferecem uma fragrância particular. Tudo está interconectado. Quando você busca, você encontra.
— A mágica está em não permitir que os conceitos atrapalhem. Particularmente, sinto que as palavras têm magnetismo. Elas sempre atuam em grupos, criam conexões ou ressaltam separações.
— As palavras concebem muitas realidades diferentes. São como times que jogam diferentes jogos, ou grupos de bailarinas que dançam em ritmos diversos, ou bandos de pássaros que voam longe — e nos levam junto.
Ferhélin observava o Mestre Yogue e o sentia voando. Ele continuava sua declaração de amor às palavras:
— São como grupos de golfinhos que nos levam a mergulhar na beleza de oceanos inimagináveis.
— As palavras possibilitam combinações que nos conduzem além do seu significado aparente.
— Sinto que as palavras têm vida. Às vezes, elas se juntam e se divertem, formando olhares que surpreendem, encantam, elevam — ou derrubam — quem brinca com elas. Acredito que a palavra é a semente que dá vida à atitude.
— Assim, em meio à jornada de traduzir a energia das linguagens da vida e das palavras junto ao meu coração, encontrei um livro antigo: Light on the Path. Ele me auxiliou em um determinado momento dessa caminhada.
— Naquele livro, havia uma dessas combinações mágicas. Uma frase dizia: “O caminho e a verdade vêm primeiro, então segue a vida.” Está conectada com uma frase mencionada por Cristo: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” — e talvez tenha nascido dela.
— O que sei é que tocou meu coração. Havia algo sagrado nela.
— A jornada me levou a perceber que a escolha do caminho é sua, qualquer que seja. Uma vez escolhido o seu caminho, e nele tendo o alimento da verdade, você terá sua vida.
— Entendo a verdade como luz. Onde há luz, há verdade. O resto é ilusão. E a vida?
— Bem, a vida é fruto de suas escolhas. Ela existe para manifestar o que seu caminho apresenta.
— A luz pode iluminar esse caminho e fazer sua vida desabrochar.
— Quando você leva luz à sua mente, sua atitude mental se torna clara e lhe permite sentir a vida a seu favor. Assim entendo — e assim compartilho com você essas frases, que considero sagradas.
Interessante, pensou Ferhélin, feliz, sentindo-se preenchida de luz.
— Pensando assim, a vida nunca estará contra os propósitos verdadeiros. Estará sempre a favor.
— Depende do caminho e da luz. A vida é o fruto — e sempre vai conspirar na direção escolhida. Se a pessoa escolher a desconfiança, colherá esse fruto. Ao escolher o medo, também. Ao escolher a luz, sua vida será iluminada. De acordo com a escolha, a vida se encaminhará naquele sentido.
— É uma responsabilidade grande — acrescentou Ferhélin.
O tempo passava, e eles resolveram caminhar. Assim fizeram até o sol começar a se despedir. A noite logo chegaria, então retornaram ao alojamento.
8. Ao Redor da Fogueira
Mais tarde, eles se encontraram novamente junto à fogueira.
Fazia frio. O Mestre Intuitivo estava sentado ao lado de Ferhélin, em um banco de madeira, sob o olhar despretensioso de algumas estrelas no céu. A noite escura combinava com o brilho das chamas.
Ele estava reflexivo, ouvindo os estalidos dos gravetos ardendo no fogo. Apenas os dois estavam ali.
Após um tempo em silêncio, ele começou a falar, olhando para as chamas:
— Creio que, se começássemos a retirar todos os complementos e a roupagem a que estamos acostumados, nos surpreenderíamos com o que somos de fato.
— Em certa ocasião, ouvi que, se deixássemos toda a matéria de lado e expressássemos apenas as energias, só restariam sons e tons para nos comunicarmos.
Mais alguns momentos de silêncio, e ele continuou a compartilhar seus pensamentos:
— De que vale o conhecimento, se não for colocado em prática? O que vale é a prática e as atitudes.
— As religiões e filosofias têm suas crenças e entendimentos sobre a natureza humana. Eu tenho a minha, você deve ter a sua, e cada pessoa pode escolher seu caminho religioso. Outras não seguem nenhuma religião, mas apresentam um determinado grau de espiritualidade — quer queiram ou não, mesmo que neguem.
— Neste momento da história, entendo que as religiões existem para ajudar e servir de referência. Quando a pessoa decide não praticar religião alguma, ainda assim deve estabelecer suas referências fundamentais para ajudá-la a sair dos labirintos que a vida apresenta.
— Em uma visão racional do mundo material, as chances de distorção são imensas, pois essa visão é estreita ao extremo.
— Mas você sabe como encaro as crenças, as referências e os princípios?
— Como traduções de algo que está além do entendimento possível para a humanidade hoje. Por mais que uma visão nascida dessas traduções tente ser clara, ela nunca será plena.
— Raras mentes são capazes de experimentar a plenitude em seu contexto ilimitado. Enxergamos conforme os limites que criamos.
— Mas sabe como enxergo a vida?
— A vida é perfeita quando a vemos com a visão correta para aquele momento determinado.
9. Em Sintonia com o Universo
As fagulhas da fogueira subiam ao céu como pequenos cometas, e o Mestre Intuitivo parecia deixar seus pensamentos voarem com elas.
Ferhélin, envolta no calor das chamas e na serenidade do momento, escutava aquele homem de olhar tranquilo, óculos na ponta do nariz e cabelos despenteados pela brisa suave.
— Cada ser tem sua natureza essencial — disse ele. — É o espírito, a centelha de luz. Descobri-la é um processo íntimo, silencioso, só nosso.
Ela o ouvia com atenção, sentindo que aquelas palavras tocavam algo profundo dentro de si.
— Se alguém perde um braço, ou qualquer parte do corpo, continua sendo quem é. O corpo é apenas uma roupagem. Temos um corpo, mas não somos apenas corpo. Temos uma personalidade, mas também não somos apenas ela. Temos papéis, mas não somos os papéis que desempenhamos.
Ferhélin refletiu:
— É comum confundirmos o papel com o ator que o interpreta. Muitos vivem como se fossem apenas o que aparentam ser.
O Mestre assentiu:
— É uma forma de ilusão. Fingimos tanto que esquecemos quem somos. Mas, em algum momento, cada ser começa a buscar sua essência verdadeira. E quando essa busca se torna sincera, os enganos diminuem, os altos e baixos se acalmam, e a vida começa a se alinhar com o que o Universo espera de nós.
Ferhélin lembrou-se de Fernando Pessoa: “O poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente.”
O Mestre sorriu, como quem reconhece a beleza de uma verdade poética.
— Quando encontramos nosso jeito pessoal de buscar, a vida se torna mais clara. Entramos em sintonia com o Universo. E então, entendemos o que significa ter a vida a nosso favor.
Eles permaneceram em silêncio por um tempo, os olhos mergulhados nas chamas que dançavam diante deles. A brisa acariciava o rosto de Ferhélin, e o frio ameno parecia abraçá-la.
Ela respirava profundamente, sentindo o ar percorrer seu corpo como uma luz suave que tocava cada célula, cada osso, cada pensamento. Deixou-se estar ali, inteira, presente, leve.
Na despedida, abraçaram-se com alegria e proximidade.
Mais tarde, Ferhélin escreveu algumas palavras sobre o que havia tocado seu coração naquele dia. E enquanto escrevia em seu caderno, com os olhos ainda úmidos de gratidão, uma estrela invisível parecia sussurrar: “A vida é perfeita quando a vemos com a visão correta para aquele momento determinado.”
Epílogo
Na manhã seguinte, Ferhélin despertou com o sol iluminando suavemente a janela do alojamento. O silêncio parecia diferente — mais profundo, mais presente.
O Mestre Intuitivo já havia partido. Sem despedidas formais, sem promessas de reencontro. Apenas a lembrança viva de uma conversa que ela jamais deixaria se apagar.
Ela respirou fundo, sentindo o ar percorrer seu corpo como uma luz suave. Sabia que algo havia mudado..
Algo novo havia aflorado — uma luz silenciosa, como uma fogueira aconchegante acesa no centro do peito. O sentimento de gratidão a preenchia por inteiro.
Por minutos, permaneceu em silêncio, deixando a brisa tocar sua pele como um sopro de renovação. Sentia-se em reencontro com algo que sempre esteve dentro dela, mas que até então permanecia adormecido.


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O SENHOR DA GELEIRA
(VERSÃO ATUALIZADA DO CAPÍTULO)

Sobre a Série Ouvindo as Estrelas

A série Ouvindo as Estrelas convida o leitor a acompanhar Ferhélin, uma jovem cientista em busca de sentido além das fórmulas e teorias. Em sua jornada pelas terras canadenses — especialmente entre os cenários majestosos das Montanhas Rochosas — ela vive encontros sutis e transformadores que a conduzem a uma nova forma de ver o mundo.
Cada minilivro é uma travessia entre paisagens externas e descobertas internas. A magia da natureza se entrelaça com reflexões profundas, revelações inesperadas e aprendizados que transcendem a lógica, tocando o espírito.
Ao longo da série, Ferhélin aprende a ouvir o que não se diz, a perceber o invisível e a integrar ciência e espiritualidade com leveza e sabedoria. Essas experiências, compartilhadas com o leitor em linguagem acessível e poética, revelam que há estrelas que só se escutam com o coração atento.
“Ouvindo as Estrelas”
Edição original – 2004
Edição Atualizada – 2025
Minilivros ‘OUVINDO AS ESTRELAS‘.
Site https://www.intuicao.com
Imagem do post (exceto as dos livros): Banco de dados Pixabay
Propósito do site Intuição.com:
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